São Paulo, domingo, 31 de julho de 2011 |
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VINICIUS TORRES FREIRE Como Dilma está dirigindo?
AOS POUCOS, mas de modo decisivo, Dilma Rousseff adota políticas que faz uns 20 anos estão no programa de economistas "mais à esquerda", "desenvolvimentistas", "dirigistas", "heterodoxos" etc. A intervenção no mercado de derivativos cambiais é, claro, a mais recente das derivas "heterodoxas". O governo não apenas criou um imposto mas se atribui o poder de regular volume, prazo e tipos de instrumentos de transações cuja referência é a moeda estrangeira. Na prática, o governo assumiu a direção desse mercado; pode tabelar ou regular preços dos negócios. Trata-se da medida mais importante do setor desde 1999, quando o câmbio deixou de ser quase fixo para se tornar mais ou menos flutuante. A respeito das "heterodoxias", lembre-se ainda de outras como: 1) o governo limita o fluxo de dólar por meio do imposto sobre investimentos financeiros do exterior; 2) o governo passou a intervir ainda mais nos preços de combustíveis; 3) a política monetária mudou: além de gradualista, considera que, no combate à inflação, a taxa de juros pode ser substituída por meios administrativos de controle do crédito, ao menos em parte; 4) a taxa "básica" de juros do BNDES, em termos reais, é zero (para grandes empresas); 5) não há um programa, explicitado ao menos, de longo prazo para conduzir a dívida pública e a meta de inflação a níveis decentes. O ativismo de Dilma vai além. Seu governo quer sacramentar a prática reinaugurada nos tempos lulianos de organizar grandes empreendimentos em associação com grandes empresas. Oferece subsídios e parcerias estatais (como no caso do trem-bala e de certas hidrelétricas), de resto sem contrapartidas. Organiza e subsidia a formação de conglomerados e oligopólios. É verdade que a empresa brasileira raramente se aventurou em empreendimentos grandes e novos sem o amparo do Estado, um problema para o desenvolvimento do país. Mas quais são as medidas para desmamar o empresário nacional? Como se pode notar, gradualmente o regime de política econômica viajou para outro planeta: acidentalmente desde Lula 2 e, agora mais programaticamente, sob Dilma 1. No dia a dia, o que mais chama a atenção nesse modus operandi é que a política econômica tem uma quantidade cada vez maior de objetivos e metas picotadas; por vezes, aparentemente incompatíveis. O governo acha que pode conter a inflação dando impulso ao aumento do investimento no curto prazo sem reduzir o consumo do governo e deixando correr algo solto o consumo privado ("das famílias"). Note-se que o crescimento dos empréstimos do BNDES está ainda em ritmo de boom. O governo quer reduzir a inflação e ao mesmo tempo espera produzir alguma desvalorização do real. O governo quer reduzir impostos sobre empresas empregadoras de muita gente e exportadoras, mas não tem caixa, pois gastou além da conta em 2010, ao menos. O governo se preocupa com o real forte e as avarias que isso causa na indústria. Mas o real é vitaminado pelos juros altos, que assim ficarão por um bom tempo, pois o combate à inflação é gradual e prejudicado pela demanda ainda aquecida, com apoio do governo. É um malabarismo notável. vinit@uol.com.br Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Barra Funda ganha 'bairro' planejado Índice | Comunicar Erros |
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