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Argentina ameaça bater EUA como 2º maior importador
Vizinhos já superam americanos em alguns meses na compra de itens brasileiros
Para Rubens Ricupero, produções argentina e brasileira se tornaram mais concorrentes do que complementares
ÁLVARO FAGUNDES
DE SÃO PAULO
VERENA FORNETTI
DO RIO
Diz a anedota que, no início do século passado, o barão do Rio Branco falou a diplomatas argentinos que eles
não poderiam esperar o mesmo tratamento dado aos norte-americanos, que compravam mais trigo do Brasil.
No mês passado, a situação se inverteu. A Argentina
ficou com 9,2% das vendas
do Brasil ao exterior (ante
8,9% dos norte-americanos)
e ameaça se tornar o segundo
maior mercado comprador
dos produtos brasileiros -a
China é o primeiro.
De dezembro para cá, o
Brasil vendeu em três meses
mais para a Argentina que
para os EUA, algo impensável em outros anos. Em 2002,
por exemplo, um quarto das
exportações brasileiras foram para os EUA, enquanto
4% tiveram como destino o
país vizinho, que vivia grave
crise, com queda de 10,9%
no PIB.
Mas, mesmo depois que a
economia argentina melhorou, os EUA mantiveram
sempre boa vantagem. Esse
cenário, porém, foi sendo
corroído aos poucos pela
China, que, em 2009, ganhou
o posto de maior importador
brasileiro. De 25%, em 2002,
a exportação aos EUA foi reduzida a 10% em 2009.
Enquanto isso, as vendas
para a Argentina ficaram praticamente estáveis, oscilando em torno de 8% e 9%.
CRISE GLOBAL
O professor Antônio Correa de Lacerda, da PUC-SP,
afirma que a situação se relaciona com a recuperação frágil dos Estados Unidos e da
Europa após a crise. "A tendência é que não só a Argentina mas também outros países emergentes ganhem espaço na pauta de exportações brasileiras."
O embaixador Rubens Ricupero tem dúvidas de que a
Argentina se manterá como
segundo maior comprador
do Brasil. A China tem ampliado as vendas para o país
vizinho e, segundo Ricupero,
nos últimos anos, as produções argentina e brasileira se
tornaram mais concorrentes
que complementares.
Os dois países são grandes
exportadores de commodities, e a Argentina está buscando a reindustrialização
após sucessivas crises.
"Os argentinos dizem que
não querem trocar trigo por
aço. E que não querem ser a
granja da América do Sul",
afirma o embaixador.
Para ele, uma relação comercial mais profícua depende de um aprofundamento
do Mercosul, com a criação
de órgão de solução de controvérsias e maior integração
das cadeias produtivas.
PERSPECTIVAS
Segundo relatório do Morgan Stanley, a Argentina caminha para ser um dos países com maior crescimento
na América Latina neste ano.
A análise do banco aponta
o aquecimento da economia
brasileira como uma das razões mais importantes para a
recuperação do país vizinho
após a crise internacional.
"A recuperação das exportações agrícolas e industriais
para o Brasil é um importante motor da expansão argentina", diz o relatório.
Os outros fatores são a demanda por commodities no
mercado internacional e o
avanço do consumo interno.
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