São Paulo, sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

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Governo Lula é exemplo para outros, diz investidor

El-Erian, da Pimco, diz que petista exerce um "efeito de demonstração"

Para ele, Argentina e Venezuela não estão entre os países que se interessaram em copiar o que foi feito no Brasil

Jonathan Alcorn - 26.abr.2010/Bloomberg
El-Erian em evento na Califórnia, neste ano

ROBERTO DIAS
EDITOR-ADJUNTO DE MERCADO

Nos idos de 2002, quando investidores corriam do Brasil com medo de Lula e a Bovespa recuava 17%, um nova-iorquino de ascendência egípica ficou famoso ao nadar contra a corrente. Mohamed El-Erian, 52, convenceu a Pimco, maior administradora de fundos de renda fixa do mundo, a comprar mais títulos brasileiros durante a ascensão do PT. Oito anos depois, diz que o governo Lula teve um "efeito de demonstração", que poderia ser resumido assim: é possível crescer sem assustar o mercado e sem descuidar do combate à pobreza. El-Erian é atualmente presidente-executivo da Pimco, que administra US$ 1,2 trilhão em investimentos.

 
Folha - Qual foi o momento mais importante de Lula?
Mohamed El-Erian
- Foram muitos. Em particular, as primeiras semanas após o segundo turno de 2002. Era um período especialmente vulnerável, e não apenas pelo nervosismo visível no mercado financeiro brasileiro.
O país sentia o impacto negativo do calote argentino de 2001, a incerteza do cenário global e o nervosismo generalizado depois dos escândalos corporativos de Enron e WorldCom nos EUA.
O medo agudo dos mercados em 2002 foi superado por um entendimento crescente de que o presidente Lula tinha vontade e capacidade de buscar disciplina fiscal. E, importante, que faria isso de maneira sustentável ao mesmo tempo em que melhorava a proteção social para os mais pobres.

Lula surpreendeu o sr. em algum aspecto?
Sim. Do ponto de vista histórico, é muito incomum ver um presidente recém-eleito conseguir tão rapidamente a aceitação de estratos muito grandes da sociedade. O presidente Lula conseguiu.
Ele entrará para a história como um dos líderes políticos mais impressionantes. Foi capaz de tomar decisões difíceis enquanto mantinha o apoio da população e ganhava a admiração mundial.

Que impacto tem a trajetória do Brasil no governo Lula sobre outros países?
O Brasil teve e tem tido um importante "efeito de demonstração". O país agiu como um destacado exemplo para vários outros, não apenas da América do Sul.
Muitos países tentam entender os feitos alcançados pelo Brasil e repeti-los. Esse não é o caso da Argentina e da Venezuela, onde ainda existe preocupação sobre sua capacidade de crescer a taxas elevadas mantendo a estabilidade financeira.

Como é esse "efeito de demonstração"?
A Presidência de Lula ensina a outros líderes o que alguns outros países também fizeram: economias emergentes bem manejadas podem atingir uma "fase de ruptura", na qual o crescimento sustentável pode ser alcançado com estabilidade financeira e significativo alívio da pobreza.
É particularmente digno de nota que o Brasil tenha feito isso enquanto navegava numa crise financeira global.

É possível que o Brasil volte a ser como era antes de Lula?
É possível, mas não provável. Um dos muitos legados do presidente Lula é a extensão em que ele institucionalizou a responsabilidade fiscal e monetária no Brasil.


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