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Eleito terá de ser mais paciente que Chávez, diz ex-assessora

Para Marta Harnecker, autora de livro sobre venezuelano, novo presidente precisará mostrar que não há soluções imediatas

ELEONORA DE LUCENA DE SÃO PAULO

O grande desafio dos novos dirigentes da Venezuela será encontrar um ritmo adequado para os projetos em curso. Terão que praticar uma pedagogia dos limites, "explicar ao povo que não se pode esperar uma solução imediata de todos os problemas".

Quem adverte é a educadora chilena Marta Harnecker, 75, autora de "Hugo Chávez Frías, Um Homem, um Povo" (2002). De 2004 a 2011, ela trabalhou como assessora de Chávez na Venezuela.

Harnecker, que escreveu "Conceitos Elementares do Materialismo Histórico", avalia que o futuro presidente venezuelano não poderá governar "de forma personalista".

Nesta entrevista, concedida por correio eletrônico desde Vancouver (Canadá), onde mora, ela analisa o governo Chávez e seu legado.

Folha - Qual é o legado de Chávez?

Marta Harnecker - O legado de Chávez tem dimensão mundial. Optou por construir uma sociedade não capitalista, mas fazer isso com as pessoas. Apesar da carga negativa que tinha a palavra socialismo, ele decidiu recuperá-la, empregando o termo "socialismo do século 21", com uma cultura pluralista e anticonsumista, em que o ser tivesse primazia sobre o ter. Criou espaços para que os processos participativos pudessem ocorrer plenamente.

Por que o país não deixou a dependência do petróleo?

Talvez com uma política econômica mais adequada tivesse sido possível avançar mais. Chávez tinha clara a necessidade de fazer isso. Sua tarefa prioritária foi a resolução do problema da pobreza.

Como avalia a gestão dele?

Creio que sua gestão permitiu avançar no cumprimento dessa tarefa prioritária. Buscou caminhos inéditos, criou instituições para pôr em marcha os programas sociais, contornando a burocracia estatal, e recuperou o controle do petróleo, o que lhe permitiu dispor de excedentes para diminuir drasticamente os níveis de pobreza.

Quais foram as falhas?

Existiam as grandes linhas do plano de governo, mas faltou aprofundar os detalhes. Não foram criados os mecanismos adequados para que o povo organizado fosse o grande controlador da gestão do governo. Outra falha foi o hipercentralismo. Mas, com todas as limitações, há um abismo entre sua gestão e a dos governos anteriores.

Como deve ser a Venezuela sem Chávez?

É necessário seguir materializando suas ideias, mas sem a impaciência que o caráter do presidente impunha muitas vezes. Sem que fosse sua intenção, e ante a necessidade de ver resultados imediatos, Chávez não permitia que os processos iniciados tivessem tempo de maturação.

É forte o enraizamento do chavismo?

É preciso distinguir claramente entre o enraizamento de Chávez na população e o do PSUV [governista]. O de Chávez é enorme, mas o do partido é muito menor. Em muitos dos seus quadros de direção persistem traços e estilos de trabalho do passado que precisam ser superados.

É uma boa máquina eleitoral, mas está muito distante de ser o partido que Chávez anunciou quando tomou a iniciativa de criá-lo. E muito distante do partido que a revolução bolivariana precisa.

Mas as organizações de massa são fortes e enraizadas?

No governo Chávez, cresceu enormemente a organização popular. Mas também é preciso reconhecer que, até agora, muitas dessas organizações têm dependido demasiado do apoio do Estado. Falta maior autonomia.

Nicolás Maduro seguirá os passos de Chávez?

Creio que Maduro ou qualquer dirigente do PSUV que assuma o governo vai ter que seguir as linhas traçadas por Chávez. Só assim poderá contar com o apoio popular necessário para realizar um governo estável. O grande vigilante desse processo no futuro será o povo organizado.

Uma das coisas que o futuro substituto de Chávez não poderá fazer será governar de forma personalista.

As grandes linhas estão traçadas por Chávez, e o grande desafio da nova direção do processo será colocá-las em prática a um ritmo adequado. Essa direção terá de ser capaz de explicar ao povo que não se pode esperar uma solução imediata de todos os problemas. Deverá realizar o que chamo de uma pedagogia dos limites, ou seja, ser capaz de explicar os obstáculos que precisam ser derrubados para prosseguir aplicando essas linhas.

Leia a íntegra

folha.com/no1258148


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