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Manifesto de 1977 foi base do ideário da primeira-ministra

Documento de 36 páginas do Partido Conservador previa corte de gastos e de programas sociais e aumento dos juros contra a inflação

GUSTAVO PATU DE BRASÍLIA

Quando petistas e seus aliados atacam uma inexistente "oposição neoliberal" brasileira, estão enfrentando, conscientemente ou não, o legado de Margaret Thatcher.

Mais precisamente, ainda respondem ao ideário exposto em um manifesto pioneiro publicado em 1977 pelo então oposicionista Partido Conservador britânico.

"The right approach to the economy", título do documento, significa "a correta abordagem da economia", mas, na língua inglesa, também pode ser lido como "a abordagem da direita".

Sem os eufemismos e platitudes que predominam nos textos políticos atuais, o panfleto de 36 páginas (no atual formato PDF) prescrevia uma receita que parecia talhada para derrotas eleitorais.

Corte de gastos públicos e programas sociais; alta dos juros para o controle da inflação; livre negociação salarial entre patrões e empregados; fim da proteção oficial ao setor industrial em crise.

EFICIÊNCIA

Tudo embalado em uma retórica que valorizava a livre iniciativa, a recompensa à eficiência, a coragem de assumir riscos -ou, em outras palavras, a ambição individual e a desigualdade social.

"Obviamente, com livre negociação [entre patrões e empregados] haverá, e será bom que haja, uma ampla variação de ganhos salariais entre diferentes grupos", postulava-se, sem rodeios.

Nenhuma das ideias era nova; novidade era a força que ganhavam num cenário tomado por teses socialistas, social-democratas e desenvolvimentistas desde o final da Segunda Guerra.

As políticas intervencionistas e igualitaristas do período mostravam o seu ponto de exaustão, e o Reino Unido governado pelo Partido Trabalhista era um caso exemplar.

GASTOS PÚBLICOS

A escalada de gastos públicos elevava a inflação e a carga tributária, enfraquecendo as empresas. A debilidade era enfrentada com proteção à indústria e aos salários, demandando mais gastos e criando um ciclo vicioso.

No berço do pensamento liberal clássico, que não esperava do Estado mais que segurança jurídica e militar, os impostos já consumiam 35% da renda nacional, algo como o triplo da proporção do início do século 20.

No governo, Thatcher aplicou sua agenda sob alta do desemprego e feroz resistência do sindicalismo. Do outro lado do Atlântico, Ronald Reagan, nos EUA, e Augusto Pinochet, no Chile, eram aliados ideológicos.

A diferença é que o presidente americano não enfrentava uma máquina estatal e sindical tão articulada, enquanto o chileno impunha as suas medidas por meio de uma ditadura.

O prometido crescimento econômico sem inflação foi obtido na década seguinte, mas a história não terminou em um triunfo neoliberal -o livre-mercadismo saiu de moda com as recentes crises nos EUA e na Europa.

A expansão do Estado foi desacelerada na maior parte do mundo, mas a receita e a despesa pública não retrocederam em lugar nenhum.

Evidente foi a transformação da esquerda: trabalhistas britânicos, democratas americanos e socialistas chilenos absorveram ditames como disciplina fiscal e privatização -que, na hora da necessidade, também servem a tucanos e petistas no Brasil.

Leia o manifesto na íntegra (em inglês)

folha.com/no1259397


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