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Argentina congela preço de combustível durante seis meses
Medida foi tomada para tentar combater inflação que já chega a 25%, de acordo com as estimativas de analistas
Determinação segue congelamento em supermercados e lojas de eletrodomésticos e vai até eleição legislativa
O governo argentino determinou ontem o congelamento dos preços dos combustíveis por seis meses. A resolução, publicada no Diário Oficial, visa combater a inflação 10% segundo o governo; 25% segundo o setor privado.
O secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, ameaçou aplicar a Lei de Abastecimento aos que não acatarem a medida. "É imprescindível ditar uma política para determinar o preço dos combustíveis líquidos, evitando dessa maneira que se produzam desajustes no que devem pagar os consumidores."
O país foi dividido em regiões --província de Buenos Aires, capital, Patagônia, pampa, Cuyo, noroeste e nordeste-- que terão tabelas diferentes. Os seis meses de validade terminam, justamente, na época das eleições legislativas de outubro, que devem renovar parte do Congresso.
O kirchnerismo luta para manter a maioria nas duas câmaras, num contexto de baixa da popularidade da presidente Cristina Kirchner, atualmente em 36%.
A YPF é a principal atingida, porque abastece 60% do mercado local. As outras empresas afetadas são a Shell (19%), a Esso (9%), a Petrobras e a Oil (6% cada uma).
Segundo fontes do mercado, a Petrobras encontra-se num processo de venda de parte de suas ações no país. O principal candidato a comprador é o empresário kirchnerista Cristóbal López, que atua também na área de comunicações e é dono de um dos principais canais de notícias 24h do país, o C5N.
SUPERMERCADOS
Há dois meses, por pressão do governo, os supermercados e cadeias de eletrodomésticos chegaram a um acordo e congelaram também seus preços. Segundo a imprensa argentina, há especulações de que o congelamento se estenderia a vários setores.
As medidas surgem no mesmo momento em que os sindicatos estão negociando aumentos salariais. O congelamento torna-se um obstáculo para essas negociações.
Para o secretário da Federação de Distribuidores de Combustíveis e Afins do Centro (Fecac), Raúl Castellano, o congelamento dos combustíveis "vai complicar muito a negociação e trará um cenário conflitivo". Os sindicatos do setor pediam 30% de aumento, baseados na inflação calculada por consultorias privadas.
A decisão do governo também surge depois do anúncio de que a petrolífera estatal YPF terá de importar 50% a mais de combustíveis neste ano devido a um incêndio em uma de suas unidades.
Os postos de gasolina independentes também apontaram que o cumprimento do congelamento deve causar um conflito com os trabalhadores.
Rosario Sica, presidente da Federação de Empresários de Combustíveis da República Argentina, diz que será "impossível" segui-lo sem que haja impacto nos salários dos trabalhadores.
Para Martin Lousteau, ex-ministro da Economia, o congelamento promovido pelo governo deve causar ainda mais inflação depois que as eleições passarem, além de levar ao desabastecimento. "A tendência é que os produtos menos rentáveis deixem de ser comercializados, o que prejudicará os consumidores."