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A Dilma da Europa

Com fama de durona, chanceler alemã Angela Merkel dá broncas em colegas

DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO

Imagine um aparelho de telefone na sala de um chefe de Estado europeu. Ele toca, toca, toca -mas o líder pensa bem antes de atender.

O número que aparece no visor é o de Angela Merkel.

Em tempos de crise econômica global, os telefonemas da chanceler não têm sido agradáveis para seus pares.

Cabe à Alemanha, devido à importância do país no bloco, encontrar soluções para as contas que não fecham. É um papel incômodo àqueles de quem Merkel cobra austeridade e responsabilidade.

Ela tem feito, em especial, alertas à Grécia, cuja dívida tornou-se o centro do debate a respeito da crise europeia.

Ontem, ela disse que "a questão grega ainda não foi solucionada" -mesmo depois da saída do então premiê, George Papandreou.

Ela afirma que espera serem cumpridos os requisitos para liberar a próxima parcela, no valor de € 8 bilhões, do pacote de socorro à Grécia.

No quesito fama, Merkel é uma espécie de sucessora de Margaret Thatcher, premiê do Reino Unido entre 1979 e 1990. Ambas receberam o apelido de "dama de ferro".

Afinal, entre seus atributos se destacam a temperança e a pouca afeição aos exageros, além da austeridade.

INVESTIDURA

Analistas creditam a frugalidade aos 35 anos em que ela viveu sob o regime comunista, na Alemanha. O ascetismo, por sua vez, é visto como herança de seu pai, um pastor luterano -de quem ela provavelmente recebeu, também, a ética protestante que lhe garante o senso de dever.

À frente da maior economia europeia, Merkel tem liderado o bloco fazendo uso de seu poderio econômico.

A investidura desagrada outros líderes europeus. Silvio Berlusconi, ex-premiê italiano, referiu-se a ela como uma "bunduda incomível".

E, quando se desagrada, Merkel pode empatar o diálogo. Ela recebeu por isso a alcunha de "frau nein". A"senhora não", em alemão.

Ela rejeita, por exemplo, uma maior participação do Banco Central Europeu para solucionar a crise e diz "nein" à criação dos "eurobônus", títulos garantidos por todos os Estados da zona do euro.

Merkel é durona também no trato de outras questões.

Em fevereiro, Binyamin Netanyahu, premiê de Israel, telefonou para criticar o voto da Alemanha condenando os assentamentos israelenses.

"Como você ousa? Você não deu nenhum passo em direção à paz", ela redarguiu.

A aspereza na retórica de Merkel, somada à incumbência alemã de salvar o euro, resulta em uma espécie de aura maternal em torno dela.

Daí outro de seus apelidos: "mutti". Ou seja, "mamãe".Uma matrona de quem nem todos querem receber, no final das contas, uma ligação.

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