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Racha no governo Morales atrasa acordo com o Brasil Ultraesquerda boliviana resiste a parceria com EUA para mapear plantio de coca Projeto trilateral prevê que EUA forneça GPS e medição a laser, e o Brasil, imagens de satélite e capacitação ISABEL FLECKDE SÃO PAULO Uma divisão interna no governo de Evo Morales é o real obstáculo do acordo antidrogas entre Bolívia, Brasil e Estados Unidos, segundo a Folha apurou com fontes diplomáticas que estão envolvidas nas negociações. Encampado pelo moderado chanceler David Choquehuanca, o memorando de entendimento -que evidencia uma reaproximação do país com Washington- enfrenta a resistência da ala mais à esquerda do gabinete, representada pelo vice-presidente, Álvaro García Linera. O texto, que prevê a cooperação de Brasil e EUA no mapeamento de áreas de cultivo de coca na Bolívia, teve, na semana passada, sua assinatura adiada pela terceira vez desde março. Linera justificou a decisão dizendo que o texto precisa de "ajustes operativos relativos ao controle territorial". Nas entrelinhas, lê-se: não dar espaço para que os EUA ameacem o controle boliviano no combate às drogas e a soberania do país. O "Projeto-piloto de sistema de controle da redução de cultivos excedentes de coca" é composto de dois textos separados -um de cooperação entre Brasil e Bolívia, e outro entre Bolívia e EUA. Segundo o Itamaraty e o Ministério da Justiça brasileiro, não há nenhuma ressalva de La Paz ao trecho referente ao Brasil -que está pronto para ser assinado, mas terá de esperar pela definição boliviana sobre o acordo com os EUA. Não há nova previsão de assinatura do texto. O atraso prejudica a identificação do plantio ilegal de coca na Bolívia, de onde vem a maior parte da cocaína que entra no Brasil -alguns estimam em 80%. Segundo o Unodc (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime), há 900 mil consumidores da droga no Brasil. No início do mês, após Choquehuanca acordar com os EUA o retorno dos embaixadores dos dois países, Linera já havia dado sinais do incômodo sobre a possibilidade de um possível retorno da DEA (agência antidrogas dos EUA) à Bolívia. "A DEA não voltará à Bolívia; não precisamos de um organismo de caráter policial-político ou político-policial estrangeiro no nosso país", disse o vice, no último dia 8. A DEA foi expulsa em 2008 do país, acusada de espionagem. A embaixada da Bolívia em Brasília apenas reiterou as declarações de Linera: "É preciso ajustar alguns detalhes para que essa ação conjunta dos três países seja viável". Pelo acordo, os EUA fornecerão equipamento de GPS e de medição a laser para identificar o cultivo que excede a produção para uso lícito. O Brasil contribuirá com imagens de satélite e capacitação dos bolivianos para analisá-las. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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