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Análise Turquia

País passou a se voltar mais para o Oriente

Após guinada na gestão Erdogan para assumir liderança regional, Turquia parece mais islâmica e menos democrática

As pessoas que saíram às ruas em Istambul têm mensagem bastante clara: a Turquia moderna deseja uma democracia moderna

PHILIP STEPHENS DO "FINANCIAL TIMES"

A explicação imediata para os protestos na Turquia pode ser encontrada na reação feroz do primeiro-ministro do país, Recep Tayyip Erdogan.

Por trás da turbulência existe uma questão maior proposta nos últimos anos pelo Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), a agremiação do primeiro-ministro.

No pensamento de Erdogan, qual é o lugar da Turquia no mundo? Não muito tempo atrás, Ancara se voltava para o Ocidente. Agora, está se voltando para o Oriente.

Erdogan respondeu aos distúrbios com uma exibição pública de raiva contra aqueles que ocuparam a praça Taksim, em Istambul, e promoveram protestos em outras grandes cidades.

Os manifestantes foram definidos como extremistas e saqueadores, os turcos que bebem álcool foram chamados de alcoólatras e o Twitter foi definido como uma praga para a sociedade.

O Partido Republicano do Povo, de oposição, herdeiro da tradição laica de Kemal Atatürk, foi acusado pelo premiê de promover inquietação devido às suas sucessivas derrotas nas urnas.

Além da resposta belicosa da polícia, que recorreu ao gás lacrimogêneo, a reação do premiê dificilmente poderia ter oferecido exemplo mais claro do autoritarismo contra o qual os manifestantes decidiram protestar.

A inquietação já vinha se acumulando há algum tempo. Medidas contra a imprensa, detenções de oponentes políticos, a coloração cada vez mais islâmica da política doméstica e a suspeita de que Erdogan não prevê que seu domínio sobre o poder venha a terminar conspiram para causar inquietação.

É um "segredo" conhecido há muito tempo que Erdogan deseja trocar seu posto atual por uma Presidência de poderes ampliados.

Ele deseja alterar a Constituição do país para permitir essa transição.

A ambição cria uma inquietação que se estende bem além de seus oponentes políticos e atinge, dizem alguns, o gabinete do atual presidente, Abdullah Gül.

Ao elevar a Turquia à posição de maior força regional --e, mais recentemente, de maior potência sunita--, Erdogan demonstrou admirável disposição de adotar as reformas democráticas e judiciais necessárias a abrir as portas para negociações de admissão à União Europeia.

Uma combinação entre rejeições europeias (especialmente por parte da França e Alemanha), os problemas da zona do euro e a pujança da economia turca solapou o entusiasmo por esse percurso, levando o AKP a reposicionar o país como uma potência essencial no ponto de contato entre Ocidente e Oriente.

O mantra "evitar problemas com os vizinhos" foi calculado para sustentar essa autoridade regional.

Os acontecimentos tornaram essa estratégia obsoleta. No processo, a Turquia começou a parecer mais islâmica e menos democrática. A Turquia não é o Egito --ou a Tunísia, Líbia ou Síria.

Erdogan venceu três eleições. E no entanto parece não ter conseguido compreender que a essência da democracia é o pluralismo.

As pessoas que saíram às ruas em Istambul têm muitas queixas e reclamações, mas a mensagem delas ao primeiro-ministro Erdogan parece bastante clara: a Turquia moderna deseja uma democracia moderna.


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