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Julia Sweig

Ortodoxia e geografia

Se a lógica geográfica da Aliança do Pacífico mudar a geoeconomia na América Latina, será tão ruim assim?

Lendo a cobertura feita pela imprensa regional e internacional da Aliança do Pacífico, poderíamos concluir que os problemas da América da Latina acabaram, pelo menos para seus países-membros.

Sim, o livre movimento de pessoas e capitais, a integração das cadeias de oferta e a ampliação do comércio global são essenciais para prosperar numa economia global. E, sim, todo país precisa de estratégia para enfrentar os altos e baixos da China.

Mas respiremos fundo antes de supor que a marca latino-americana mais recente seja uma "divisa continental" permanente ou a panaceia que vá superar os obstáculos estruturais à conquista de democracias seguras e de classe média.

Acordos comerciais são estratégias de investimento; a comunidade empresarial, ao menos a moderna, os adora. Mas eles não são arquitetados para substituir políticas públicas cruciais para o desenvolvimento humano, a segurança dos cidadãos ou a solvência fiscal.

Na realidade, mexicanos, chilenos, colombianos e peruanos sabem muito bem que o comércio, por si só, não substitui um Estado inteligente e que crescimento sem inclusão social e instituições fortes é uma receita de conflitos violentos e instabilidade. Em comparação com o modelo de crescimento a qualquer custo visto alguns anos atrás, o consenso entre cidadãos e líderes dos países da Aliança do Pacífico sobre investir na educação e no bem-estar das populações, e em estratégias para reduzir a pobreza e a desigualdade, tranquiliza esta cética aqui.

Mais perturbadora é a sugestão frequente de que a Aliança do Pacífico seria a irmandade da liberdade capitalista dos modernos do século 21, enquanto o Mercosul teria se tornado o clubinho de militantes socialistas antiquados que preferem ler Lênin e Galeano a Hayek e De Soto. E a corrida para apontar vencedores regionais, seja em contextos econômicos, seja nos diplomáticos e institucionais, mostra que o apelo irresistível do concurso de beleza continua forte na América Latina.

E é aqui que surge a pergunta: para onde vai o Brasil? O boom econômico de 2003-2010 chegou ao fim. A inflação ganha força aos poucos.

Dentro da América Latina, o Brasil parece ter tomado a decisão de buscar o máximo benefício comercial do seu mercado interno e do interior das fronteiras altamente imperfeitas, mas ampliadas, do Mercosul. Na outra margem, do Atlântico, como acaba de demonstrar a viagem da presidente à África, oportunidades enormes aguardam.

No entanto, a nova normalidade inescapável parece ser que o Brasil, mesmo com um brasileiro na direção da OMC, fica de fora de várias novas constelações de blocos comerciais internacionais.

É verdade que a autonomia na política externa tem raízes profundas na história brasileira. Mas, para um país que aprecia a tolerância da heterodoxia --nas esferas econômica, política, ideológica e diplomática--, poderia a ortodoxia comercial às vezes ser dolorosa?

Por outro lado, se estivermos de fato vendo a lógica da geografia reescrever a geoeconomia da América Latina, isso seria realmente tão terrível assim?


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