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Delator quer ser julgado em Hong Kong
Edward Snowden, que revelou esquema de vigilância do governo americano, afirma que não pretende deixar a Ásia
Para advogados, não é possível julgamento em Hong Kong por crime ocorrido nos EUA, mas há como retardar processo
O ex-técnico da CIA Edward Snowden, 29, que assumiu ter vazado dados sobre o monitoramento de internet e telefone por parte da Casa Branca, disse querer ser julgado em Hong Kong e combater, de lá, eventuais tentativas dos EUA de extraditá-lo.
Snowden voltou a se manifestar em entrevista publicada no jornal "South China Morning Post", de Hong Kong. No domingo, ele revelou ao diário britânico "The Guardian" que era o autor das denúncias.
"Quem pensou que errei na escolha não compreendeu minhas intenções. Não estou aqui para me ocultar da Justiça, e sim para revelar a criminalidade", afirmou.
"Minha intenção é pedir que os tribunais e a população de Hong Kong decidam meu destino. Acho razoável ser processado, desde que eu tenha garantido o direito de um julgamento e de apelação", disse Snowden. Ele acusou Washington de "tentar pressionar" Hong Hong a extraditá-lo, mas até ontem a Casa Branca não fizera nenhuma acusação nem pedido formal contra Snowden.
Segundo o advogado nova-iorquino Robert Anello, especialista em casos de extradição, Hong Kong --ex-colônia britânica, hoje região da China com sistema judicial próprio-- não pode julgar Snowden por crime cometido nos EUA. "Eles só examinariam os requisitos de um pedido de extradição."
O ex-técnico da CIA poderia prolongar sua permanência na Ásia com recursos em tribunais locais, o que faria um anúncio de sentença demorar anos.
A especialista em direito internacional Ligia Costa, da FGV, vê um "fator positivo" numa eventual permanência de Snowden. "Ele pode ganhar tempo na burocracia judiciária chinesa, que é lenta, como no Brasil."
Outra forma de evitar o retorno aos EUA é o asilo político. Questionado se recebeu uma oferta da Rússia, Snowden disse apenas estar "feliz por haver países que se recusam a se intimidar".
CIBERATAQUES
Segundo o "South China Morning Post", que não revelou em que região da cidade está o ex-técnico da CIA, Snowden afirma que o governo americano hackeou computadores em Hong Kong e na China por anos, o que reforça o histórico de acusações de espionagem na relação sino-americana.
Os alvos das invasões seriam a Chinese University, órgãos públicos e empresas. O jornal não conseguiu checar a autenticidade dos papéis apresentados por Snowden.
O delator calcula que a NSA (Agência de Segurança Nacional) tenha feito mais de 61 mil operações de hackeamento no mundo.