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Análise

Caso desmonta ilusão de que o país tornou-se "pós-racial"

O que torna a absolvição de Zimmerman frustrante é que matar Trayvon foi um caso de "é como as coisas funcionam"

PATRICIA WILLIAMS DO "GUARDIAN"

No julgamento de Zimmerman, o juiz explicitamente bloqueou qualquer discussão sobre a questão da raça.

Ao mesmo tempo, sua defesa foi precisa e explicitamente baseada na premissa do quanto Trayvon Martin "parecia" um grande "delinquente" negro. E em como era razoável suspeitar e ficar alarmado porque Trayvon --fazendo nada mais que caminhar para a casa de seu pai-- parecia alguém que "poderia ser" um "predador" preparado para um "rompante" ou uma "farra do crime".

Do que mais poderíamos chamar isso a não ser de racismo se confrontado com um consenso social tão descolado do real: um garoto desarmado, levando refrigerante envolvido na horrorosa projeção de medos?

O movimento pelos direitos civis nos anos 60 e 70 trouxe uma das mais efetivas mudanças estruturais nas relações raciais da história dos EUA. Desde então, a reação a isso tem se inflado lentamente. Com a eleição de Barack Obama, houve aqueles que insistiram que tínhamos alcançado a longamente ansiada apoteose "pós-racial".

Nos últimos anos, a Suprema Corte tem agressivamente restrito leis desenhadas para mitigar o legado da segregação: é tido como racista considerar o fator raça, mesmo se o objetivo for remediar a desigualdade.

Por causa disse é praticamente impossível provar discriminação.

O que torna a absolvição de Zimmerman particularmente frustrante para muitas pessoas é que matar Trayvon Martin foi, de muitas formas, um caso de "é como as coisas funcionam", parte de uma longa e sangrenta história, a não ser pelo fato de que estamos numa "era pós-racial" em que não deveríamos falar sobre isso.

Na América "pós-racial", as estatísticas são em muitos aspectos piores do que nos anos 50, especialmente na chamada "guerra ao crime" nas periferias negras.

Como o livro de Michele Alexander "The New Jim Crow" (sem tradução no Brasil) documenta, nossa aplicação desigual das leis antidrogas assim como a política de revista indiscriminada usada exclusivamente em bairros negros estão criando um sistema de castas e sustentando expectativas e suposições que chancelam resultados como o de Zimmerman.


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