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"Nós teremos uma zona do euro menor"

Criador do acrônimo Bric, o economista inglês Jim O'Neill vê supervalorização do real

DE LONDRES

Há exatos dez anos, o economista inglês Jim O'Neill usou pela primeira vez o acrônimo Bric para se referir a Brasil, Rússia, Índia e China, países que a seu ver iriam impulsionar a economia mundial na década.

A sigla estava num relatório para investidores do banco Goldman Sachs, mas o mundo ainda estava atônito com os atentados de 11 de setembro nos EUA, e muitos não prestaram atenção.

Com o tempo, as teses de O'Neill foram se confirmando. Ele ganhou seu quinhão de fama e admite que sua carreira foi moldada por sua "criação".

Em almoço com jornalistas, em Londres, ele falou de Brasil e de uma zona do euro mais restrita. Leia os principais trechos da conversa.

Mudaria os países?

Se tivesse que reescrever o relatório em que criei o termo Bric, há dez anos, escolheria os mesmos quatro países. Há muita contestação sobre a presença da Rússia. Acho isso patético. Mostra apenas a idiossincrasia anglo-saxônica, de pessoas que não gostam da Rússia, do [primeiro-ministro Vladimir] Putin.

Vários países vêm aqui e falam, por que não nós? Os mexicanos dizem: Por que não um Brimc? Os indonésios: Por que não um Briic...

A Coreia do Sul é um lugar interessante, mas tem uma população pequena. A Indonésia é outro país interessante, mas teria que crescer 10% por dez anos para chegar perto do que é a Rússia.

Mudanças na governança

Os Brics têm juntos quase 3 bilhões de pessoas, só isso é suficiente para que tenham uma voz nos organismos de decisão mundial.

A atual estrutura do G8 (EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá -países considerados desenvolvidos e que eram as maiores economias do mundo- mais a Rússia) não funciona mais.

Ao mesmo tempo, o G20 [reunião das 20 maiores economias] é muito grande para ser realmente efetivo.

"Doença holandesa"

O Brasil já sofre um pouco da chamada "doença holandesa" [quando a sobrevalorização da moeda, causada por exportação de commodities, provoca desindustrialização]. Entre os Brics, o Brasil é o que tem a moeda mais supervalorizada. A queda no preço das commodities deve provocar uma desvalorização.

"Bundesbank dos Brics"

Acho que está correta a posição do Banco Central brasileiro de reduzir as taxas de juros. Os mercados ao redor do mundo estão vendo o BC como o Bundesbank [Banco Central alemão] dos Brics, por sua rigidez. O que é OK, mas não se você estiver com a moeda supervalorizada.

Um dos desafios do Brasil é reacertar a participação do Estado na economia. É preciso reduzir a parcela dos gastos do governo no PIB.

Eu fico preocupado quando escuto alguns políticos brasileiros dizerem que é preciso se espelhar na China, e fazer do governo o motor da economia. Pensam: se a China consegue crescer 7% com o governo gastando, nós também podemos. Não podem.

Países Club Med

Acho que teremos uma zona do euro menor, mais forte e que inclua algum ou alguns dos "países club Med" [Itália, Espanha, Portugal e Grécia]. Eu brinco que deve ter um local secreto na Alemanha onde eles usam o mercado para conseguir o que sempre quiseram. O que a [chanceler Angela] Merkel diz agora, sobre mudança de tratados com mais união fiscal, é o que muitos políticos alemães queriam lá atrás, em 1997. (VM)

Leia a íntegra da entrevista
folha.com/no1014063

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