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Ilustrada - em cima da hora

Artista provocador, Ferrari morre aos 92

Argentino havia despertado a ira do papa Francisco, então cardeal, ao exibir Cristo amarrado a um bombardeiro

León Ferrari, que passou período de exílio no Brasil, deixa obras que contestam a ditadura e a Igreja

SYLVIA COLOMBO DE BUENOS AIRES

Morreu ontem, aos 92 anos, em Buenos Aires, León Ferrari, o maior artista plástico argentino contemporâneo. Ferrari ficou reconhecido devido ao alto teor provocativo de suas obras, que atacavam a Igreja e o Exército, em especial durante a ditadura militar em seu país (1976-1986).

Seu trabalho compunha-se de instalações, colagens, esculturas e algumas pinturas. Uma das obras mais famosas é "La Civilización Occidental y Cristiana", que representava Cristo amarrado a uma maquete de um avião bombardeiro norte-americano.

Também eram comuns montagens com brinquedos, figuras religiosas e recortes de jornais, que compunham ataques às duas instituições e denunciavam seus crimes.

Ferrari teve um filho, Ariel, desaparecido por causa da repressão, e passou boa parte do período exilado no Brasil, onde trabalhou com videotexto, heliografias e instrumentos musicais. De volta à Argentina, em 1983, retomou temas político-religiosos, usando colagens e ilustrações da Bíblia.

Voltou a São Paulo em 1985, quando expôs no Museu de Arte Moderna de São Paulo uma jaula com duas pombas que defecavam sobre o Juízo Final, de Michelangelo.

A ditadura foi um tópico importante em sua obra. Em 1996, fez as ilustrações do relatório "Nunca Mais", sobre crimes da repressão, reeditados pelo jornal "Pagina12".

Em 2007, Ferrari foi premiado com o Leão de Ouro da Bienal de Veneza. Sua obra foi exposta no MoMA, de Nova York, no Museo Reina Sofia, da Espanha, e na Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Em 2005, uma retrospectiva sua no Centro Cultural Recoleta, em Buenos Aires, causou a fúria do então cardeal Jorge Bergoglio, hoje papa Francisco. A exposição foi invadida por seguidores e alguns objetos foram quebrados. Entre as obras polêmicas estavam o Cristo amarrado ao avião norte-americano e estatuetas cristãs presas em frascos de vidro.

Ferrari decidiu interromper o projeto e desistiu da retrospectiva. À época, Ferrari disse que Bergoglio havia feito a ele "um favor" ao condenar a mostra, pois havia-lhe dado mais publicidade.

Neste ano, o centro cultural da memória, financiado pelo Estado, e instalado na antiga ESMA (Escola Superior da Marinha), que fora um dos principais centros de detenção e morte durante o regime, reuniu todo o trabalho de Ferrari. Já doente de câncer, ele não pôde comparecer.

Ontem, Avós da Praça de Maio, ligadas ao governo kirchnerista, lamentaram a partida do artista, enquanto o Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (Malba), entidade privada, lançou comunicado em que se despedia "com enorme carinho" do grande mestre. Para a crítica de arte do "La Nación", Alicia de Arteaga, a obra do artista "marcou uma ruptura na produção nacional do século 20".


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