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O plebeu contra o bebê

Ativista que luta pelo fim da monarquia britânica protestou em prol da causa na porta do hospital onde nasceu George

BERNARDO MELLO FRANCO DE LONDRES

Enquanto a maior parte do Reino Unido celebrava a chegada do bebê real, um ativista deu plantão diante do palácio de Buckingham e do hospital onde nasceu o príncipe George para defender o fim da monarquia.

Diretor do grupo Republic, o ativista Graham Smith, 39, passou os últimos dias diante de microfones e câmeras de TV. Ele fez uma cruzada pessoal para que o noticiário incluísse críticas à realeza.

Sem medo de ser do contra, Smith aproveitou o momento de festa dos súditos para empunhar a bandeira republicana. A causa é apoiada por apenas 17% dos britânicos, segundo pesquisa do instituto Ipsos-Mori.

"Nossa luta é pela abolição da monarquia", diz o ativista à Folha. "Acreditamos que toda criança deveria nascer igual. O chefe de Estado tem que ser escolhido pelo voto."

O nascimento do novo herdeiro do trono dominou a mídia do Reino Unido durante toda a semana. O assunto continuou no ar mesmo quando não havia notícia, como chegou a admitir ao vivo um âncora da BBC.

"O interesse na monarquia é muito inflado pela mídia. A TV abandonou qualquer pretensão de fazer jornalismo para simplesmente celebrar a instituição", ataca Smith.

Pelo Twitter, ele incentivou os mais de 10 mil seguidores do Republic a enviarem reclamações contra a overdose de bebê real ao órgão que regula os meios de comunicação.

A BBC respondeu com números. Na segunda-feira, dia em que George nasceu, seu site bateu o recorde histórico de visitas. Foi um fenômeno: 19,4 milhões de acessos únicos em todo o mundo.

"Nossa cobertura do bebê real foi extremamente popular", afirmou a rede, citando entrevistas com o próprio Smith ao sustentar que o "outro lado" também foi ouvido.

"Estamos satisfeitos porque nossa audiência teve a melhor cobertura de um evento histórico importante: o nascimento de um novo herdeiro do trono", prosseguiu a nota da emissora.

O argumento não convenceu o ativista republicano, que acusa a TV pública de ter embarcado no clima de exaltação à realeza.

"A BBC é muito relutante em assumir seus erros. Muita gente ficou irritada e desligou a televisão", afirma.

Não é fácil ser republicano na terra da rainha, uma figura onipresente no país, do hino às notas de libra esterlina. No Parlamento, todos os grandes partidos juram fidelidade ao regime.

"Ninguém levanta a questão por medo de perder votos. Há um acordo entre a elite política e a monarquia", diz o diretor do Republic.

Sem escritório próprio, ele trabalha de casa, numa pequena cidade ao norte de Londres, e usa as redes sociais para fazer propaganda. Anteontem, recebeu a reportagem de meias e sem largar o iPhone usado para trocar mensagens com aliados.

"Eu ficaria muito feliz em participar de um debate ao vivo na TV com o príncipe Charles ou com William", diz.

"Perguntaria por que eles acham que têm o direito de estar lá sem que o povo seja consultado. É uma questão simples, mas eles teriam dificuldade para responder."

No debate com os súditos, o ativista admite que as reações nem sempre são boas. "Tem gente que discute, fica irritada. Mas é a minoria" diz. "Em geral as pessoas se interessam, vêm conversar."

Na contramão da maioria, Smith diz torcer para que o pequeno George nunca se torne rei. Ele diz que a realeza terá problemas na sucessão da rainha Elizabeth 2ª.

"Com Charles como rei, eles vão se tornar um alvo mais fácil", afirma o ativista.

Apesar de as pesquisas indicarem o contrário, ele diz que a série de comemorações dos últimos três anos, em que a realeza festejou casamento, jubileu da rainha e bebê, não foi ruim para sua causa. "Tudo isso serviu para que mais gente nos desse atenção. Então, que venham mais casamentos e mais bebês!"


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