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Análise
Mestre da retórica, Obama vai se expor a comparação com o maior líder negro
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA ESPECIAL PARA A FOLHAO presidente dos EUA, Barack Obama, parece não temer desafios no campo da retórica. No período de dois meses, aceitou expor-se a comparações com dois dos maiores oradores do século 20.
Em 19 de junho, falou em frente do portão de Brandemburgo, em Berlim, onde 50 anos antes John Kennedy havia feito o célebre e clássico discurso "Ich bin ein Berliner" (Eu sou um berlinense).
Nesta quarta, ele estará nos degraus do Memorial de Lincoln, em Washington, onde meio século antes Martin Luther King proferiu o "I have a dream" (Eu tenho um sonho), talvez a mais importante peça retórica do século passado, comparável apenas ao "Blood, toil, sweat and tears" (Sangue, trabalho, suor e lágrimas) de Winston Churchill, de 1940.
Para Obama, o primeiro presidente afrodescendente dos EUA, o desafio de se deixar contrastar com o talento de King, o mais importante líder negro da história do país, é particularmente difícil.
A chance de seu pronunciamento vir a ser considerado melhor ou até mesmo do mesmo nível de "I have a dream" é mínima, embora Obama seja excelente orador.
Mas, enquanto o presidente teve seu treinamento retórico como aluno e professor de direito, King veio das igrejas protestantes e dos movimentos sociais, muito mais capaz de arrebatar.
E enquanto Obama é considerado uma frustração por muitos negros e defensores dos direitos civis (já que, após quase cinco anos, muito pouco melhorou no terreno da igualdade racial e do respeito aos direitos civis em comparação com a situação anterior), King personificou a esperança por dias melhores.
King alcançou a perfeição em 28 de agosto de 1963. A linguagem corporal, as entonações da voz, a cadência das palavras, o ritmo das frases, a linguagem evocativa, a repetição dos temas essenciais, as referências culturais, históricas e religiosas, a ligação emocional com a audiência, a força das metáforas, a mistura de poesia com sermão, a simplicidade da estrutura e o extraordinário fecho, que combinava determinação, confiança e certeza moral, tudo formou um conjunto tão magistral que dificilmente terá concorrência no futuro.
Obama é inteligente demais para evitar competir com King. Será interessante ver como este mestre da retórica do século 21, talvez o melhor até agora, vai lidar com essa contenda.