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Marcos Caramuru de Paiva

A crise da dívida acaba agora

Isso, visto hoje, aumenta a esperança. Mas armadilhas que nos levaram à crise podem ainda surpreender

As novas gerações ouviram falar pouco da crise da dívida externa, que consumiu energias do país de 1982 à metade dos anos 1990. Muitos brasileiros mais velhos nunca entenderam como nos metemos nela e como encontramos a saída.

A história não difere da de outras crises. O aumento dos preços do petróleo, na década de 1970, gerou uma disponibilidade de liquidez no mundo. Os bancos com capilaridade internacional saíram a vender empréstimos. Países em desenvolvimento viram oportunidade para mover as economias. Os preços elevados das commodities e as taxas de juros baixas induziram o Brasil a tomar bom volume dos recursos.

No início dos anos 1980, o cenário virou. A liquidez contraiu-se, os preços das commodities caíram, e as taxas de juros aumentaram. Saldar os compromissos tornou-se impossível.

Num primeiro momento, avaliou-se que os países endividados vivenciavam problemas transitórios. A questão era garantir-lhes oxigênio para enfrentar o curto prazo. Assim, em janeiro de 1983, o Brasil reescalonou pagamentos e contratou um empréstimo de emergência.

Um ano depois, viu-se que o oxigênio era pouco. Voltamos a reescalonar a dívida e a contratar dinheiro novo. Mas esse segundo acordo não se sustentou. Em julho de 1986, tivemos de voltar à mesa com os credores, já sem obter linhas.

O acordo de 1986 falhou como os anteriores. Em fevereiro de 1987, o Brasil suspendeu seus pagamentos.

O Brasil e os credores só voltaram a negociar e acertar um entendimento em novembro de 1988. Mas a maior parte do que se firmou tampouco foi cumprida.

Decretamos uma nova moratória, em julho de 1989. Apenas uma parcela dos pagamentos reescalonados, US$ 1 bilhão, foi transformada nos chamados bônus de investimento brasileiros, que chegam ao prazo de vencimento neste mês de setembro, no dia 15. Eles são o último instrumento da crise que ainda existe no mercado. Os demais foram saldados ou trocados por títulos da era do real. Com a devolução dos recursos aos seus detentores, viramos definitivamente a página.

A solução do problema só veio no início dos anos 1990, quando a economia se estabilizou e dois fatores mudaram o quadro externo: a redução da taxa de juros e a proposta de securitização e redução de dívida, conhecida como Plano Brady --na verdade, uma ampliação da ideia do nosso bônus de investimento, que foi inicialmente rejeitada pelo Tesouro americano, depois encampada por ele.

A saga da dívida deu-se em anos turbulentos. Tentamos planos mirabolantes para estabilizar a economia e vivenciamos o fim do regime militar, a Constituição de 1988, a eleição de Tancredo Neves, seu prematuro falecimento, o governo frágil de um vice, o "impeachment" de Collor, o breve mandato de Itamar Franco.

Tudo isso, visto hoje à distância, aumenta o grau de esperança no país. Melhoramos. Mas as armadilhas que nos levaram à crise --confiança nos juros baixos e nos preços elevados das commodities-- podem ainda surpreender e gerar problemas. Não tão graves, esperemos, mas nunca triviais.


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