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Islâmicos lideram na apuração do pleito egípcio

Autoridade eleitoral diz que siglas islâmicas reuniram 60% dos votos

Israel caracteriza o prognóstico como "muito preocupante"; Egito terá mais duas etapas de votação

MARCELO NINIO
de jerusalém

Os primeiros resultados da eleição egípcia apontam vitória de legendas islâmicas, que juntas obtiveram cerca de 60% dos votos.

A cifra é uma estimativa da autoridade eleitoral, já que pouquíssimos resultados foram divulgados ontem.

Mas bastou para que o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, classificasse o prognóstico de "muito, muito preocupante".

Banida desde os anos 50, a Irmandade Muçulmana comprovou ser a mais organizada força política do país. Seu partido, Liberdade e Justiça teve 40% dos votos.

Em segundo lugar, com 20% dos votos, ficou a grande sensação desta primeira fase da eleição, o partido ultraortodoxo islâmico Al-Nour ("a luz", em árabe).

Os salafistas foram afastados da política na ditadura de Hosni Mubarak, deposta em fevereiro, por considerarem que o poder político só pode vir de Deus.

Para as fragmentadas forças liberais, que até a semana passada concentravam sua artilharia política contra a demora da junta militar em deixar o poder, a vitória dos partidos islâmicos serviu como um sinal de alerta.

O Bloco Egípcio, aliança de partidos liberais que chegou em terceiro, com 15% dos votos, publicou ontem anúncios na imprensa convocando seus simpatizantes a irem às urnas para tentar virar o jogo nas duas últimas rodadas de votação para a Câmara dos Deputados, que ocorrem até janeiro.

APATIA PREOCUPANTE

Como temiam ativistas pró-democracia, a eleição da última semana esvaziou a praça Tahrir, epicentro da revolta que levou à renúncia de Mubarak.

O centro de gravidade saiu da praça e voltou a uma arena bem conhecida dos egípcios, o confronto entre grupos islâmicos e os militares, que ainda mantêm o poder.

Na última semana, quando o centro do Cairo pegou fogo com protestos exigindo a renúncia da junta militar, taxistas olhavam torto se o destino era a Tahrir. "O que você vai fazer lá?", perguntavam. Em janeiro, a resposta era óbvia. Hoje, nem tanto.

Cansados de instabilidade e insegurança, muitos compraram o argumento dos militares de que é preciso parar com a agitação e dar um fôlego à economia do país.

Em volta da praça Tahrir, comerciantes voltam à normalidade depois que a nova onda de protestos os obrigou a manter as portas fechadas por uma semana.

"Apoio os manifestantes, mas é preciso dar tempo para que os militares restabeleçam a ordem", diz Amr Soukhary, 46, dono de uma loja de eletrônicos.

Ativistas pró-democracia identificam nesse discurso uma apatia preocupante.

"Os egípcios querem uma revolução do dia para a noite", queixa-se Nada Wassef, 23, que de ativista virou apresentadora da recém-criada TV 25, emissora batizada com a data em que começou a revolta contra Mubarak.

Para ativistas como Nada, a semana termina com o que pode ser o início de um pesadelo: uma junta militar no poder e uma maioria islâmica no Parlamento.

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