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Análise Síria

Nova proposta permite recuo sem desprestígio

Caso Assad entregue armas químicas, Obama poderá desistir de intervenção na Síria sem ônus para sua credibilidade

A mais recente iniciativa merece ser levada a sério, porque dá a todos os envolvidos alguma coisa de que precisam

JONATHAN FREEDLAND DO "GUARDIAN"

É preciso escrever um novo capítulo no manual da diplomacia. E dedicá-lo à declaração de improviso --ou mesmo à gafe-- que permite evitar uma guerra.

Não sabemos ainda se o comentário aparentemente espontâneo de John Kerry em Londres, sugerindo que a Síria poderia evitar um ataque americano se entregasse seus estoques de armas químicas, deu início a um processo que terminará por prevenir uma ação armada dos EUA.

Mas a mais recente iniciativa merece ser levada a sério, porque dá a todos os envolvidos alguma coisa de que precisam. Ela pode permitir que os antagonistas recuem da beira do abismo sem que sofram desprestígio.

Para o ditador sírio, Bashar al-Assad, o prêmio é evidente. Caso concorde em entregar as armas proscritas, poderá evitar um ataque que possivelmente o atingiria.

Para a Rússia, cujo chanceler, Sergei Lavrov, decidiu aproveitar o floreio retórico de Kerry e fazer dele uma iniciativa, o benefício seria duplo.

Primeiro, o presidente russo, Vladimir Putin, poderá posar como o estadista mundial que conseguiu conter a agressão americana.

Segundo, Moscou há muito teme que as armas químicas sírias caiam em poder da oposição jihadista caso Assad seja derrubado. Remover as armas do país árabe reduziria esse perigo.

Acima de tudo, porém, a proposta é um salva-vidas para um presidente que parecia estar se afogando.

Todos os sinais sugeriam que o pedido de Obama para que o Congresso americano aprovasse uma ação militar na Síria estava se encaminhando para a derrota, ao menos na Câmara.

E, mesmo que tivesse obtido o que pede, não há como negar que ele há muito reluta em intervir na guerra civil síria pelo uso da força --pela admirável razão de que consegue ver todos os perigos que seus oponentes apontam.

De fato, Obama só ameaçou ataques militares para se manter fiel à declaração que havia feito um ano atrás --a de que o uso de armas químicas seria uma "linha vermelha"que os EUA não permitiriam que Assad cruzasse.

O mais recente plano lhe oferece um caminho alternativo: caso o ditador abandone as armas químicas, Obama poderá argumentar que sua declaração quanto à linha vermelha e a proibição internacional ao uso de armas químicas foram honradas.

Mas esse sucesso --se é que a ideia se provará um sucesso-- só surgiu devido à ameaça de uso de força pelos EUA. Assad dificilmente teria concordado com essa solução sob outras circunstâncias.

E, caso os Estados Unidos e a Rússia se provem capazes de fazer o plano funcionar, por que não poderiam trabalhar juntos para encontrar uma solução diplomática que acabará com todas as mortes na guerra síria, e não apenas com as provocadas por gás?


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