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Clóvis Rossi

Maduro erra o diagnóstico

Presidente busca poderes especiais para resolver os "tremendos problemas" que o chavismo criou

Uma passagem aérea de Caracas a Hong Kong, do outro lado do mundo, pode ser comprada na Venezuela pelo equivalente a apenas US$ 1.774, ao passo que o preço para voar à vizinha Miami (só três horas de voo) sai por mais que o dobro, uns US$ 4.000.

O que há de errado com esses preços sem nexo? Simples: a política econômica da Venezuela chavista, tão brutalmente ineficiente que criou uma enorme brecha entre o dólar oficial e o dólar paralelo.

Para poder comprar dólares no câmbio oficial (US$ 1 = 6,3 bolívares), é preciso exibir o comprovante de compra de uma passagem para o exterior. Com isso, o cartão de crédito do interessado é liberado para sacar dólares no destino.

Muita gente nem viaja. Compra a passagem, entrega o cartão "premiado" para uma pessoa de confiança que, ela sim, viaja e "raspa" o cartão, conforme o neologismo criado para essa situação. Na volta, o dólar de 6,30 é vendido a mais de 40 bolívares, um grande negócio.

Qual a reação do governo Nicolás Maduro? Pedir poderes especiais para enfrentar o que o presidente considera sabotagem da oposição, mas não passa de incompetência do governo ou, na hipótese mais extrema, de inviabilidade do tal "socialismo do século 21".

Não é por falta de poder que o governo não consegue enfrentar o problema cambial, apenas o mais grotesco de todos eles. Há também o desabastecimento de gêneros essenciais, há uma inflação que é a maior do hemisfério ocidental (37,9% este ano, prevê o FMI), há um nível de violência recorde na América do Sul, há por fim a anemia econômica (o FMI prevê crescimento de magérrimo 1% este ano).

Tanto não é falta de poder que até Nelson Luz Fuentes, colunista no sítio esquerdista "Aporrea", cobra: "Dedique seu valioso tempo a resolver os tremendos problemas políticos, econômicos e sociais em que a pátria se encontra mergulhada".

Há, pois, até no chavismo quem admita "tremendos problemas".

Maduro prefere fugir para frente e adota um caminho oposto ao de seus mentores cubanos. Enquanto Cuba abre espaço para o setor privado, a Venezuela os fecha; enquanto Cuba vai dispensando funcionários públicos, a Venezuela aumenta exponencialmente o seu número (passaram de 1,4 milhão para 2,4 milhões, 72% mais, enquanto o setor privado engrossava seus quadros em apenas 42%).

Os poderes especiais que Maduro quer obter servirão também para combater a corrupção, até "entre os mais vermelhos dos vermelhos", diz o presidente, em alusão à cor símbolo do chavismo.

Providência necessária: apenas oito dos 176 países no ranking da Transparência Internacional são percebidos como mais corruptos que a Venezuela. O problema é que a corrupção, para Maduro, é também culpa da oposição, quando até as colunas do Palácio de Miraflores sabem que o governo, qualquer governo, é sempre o foco principal de corrupção, na sua promiscuidade com o setor privado.

Tudo somado, não é difícil imaginar que os problemas venezuelanos tendem a se agravar com os poderes especiais.

crossi@uol.com.br


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