Índice geral Mundo
Mundo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Irã em transe

Festival de Ashura transforma país em gigantesco centro de devoção e é a essência da cultura xiita

SAMY ADGHIRNI
DE TEERÃ

O Irã parou ontem para homenagear o santo mais importante do xiismo, cuja morte por inimigos no ano 680 molda até hoje a identidade religiosa e cultural da maioria dos iranianos.

O feriado anual de Ashura, que se encerra hoje, transformou Teerã num imenso centro de devoção ao mártir imã Hussein Ibn Ali, neto do profeta Maomé. Cerca de 90% dos iranianos são xiitas.

Por toda a cidade foram colocadas bandeiras e faixas pretas em sinal de luto.

As principais ruas foram tomadas por procissões de homens que simulam autoflagelo batendo nas próprias costas com correias de metal.

Outros devotos jogavam os braços contra o peito em ritmo sincronizado. Mulheres, a maioria coberta com um véu preto que vai da cabeça aos pés, acompanhavam de perto as cerimônias.

Nas mesquitas, o som da pregação que saía dos alto falantes se misturava ao choro vindo tanto da ala masculina como da feminina.

Os cânticos relatam à exaustão como o imã Hussein e seus 70 combatentes foram mortos e mutilados por se recusarem a obedecer um governador da dinastia umíada em Karbala, hoje santuário xiita no Iraque.

Num terminal de ônibus ao norte de Teerã, atores rodeados por gente de todas as idades e classes sociais encenavam ao ar livre os últimos instantes de Hussein.

A morte do imã foi um dos fatores do racha entre muçulmanos sunitas e xiitas, que acreditam que Maomé só poderia ser sucedido por seus familiares. Hussein é hoje cultuado pelos persas, rivais históricos dos árabes, como um santo cujo sangue servirá para defender os injustiçados e oprimidos.

Muitos no país afirmam que a atitude de enfrentamento iraniano contra o Ocidente é inspirada pelas pregações do imã.

Historiadores também dizem que os ensinamentos de Hussein se refletem nos levantes históricos dos iranianos contra governos vistos como injustos -duas vezes contra monarcas no século 20 e, mais recentemente, contra o presidente Mahmoud Ahmadinejad.

"O imã Hussein está do lado do povo independentemente da política. Não tem nada a ver com estar a favor ou contra o governo", diz a dona de casa Fatemeh K., 45.

FORÇA MÍSTICA

O espírito de Hussein também é tido como uma força mística capaz de operar milagres. Em dias de Ashura, pais levam os filhos em cadeiras de rodas para receber bênçãos nas mesquitas e fazem promessas -atos impensáveis para os sunitas, ramo majoritário do islã.

Muita gente se aglomera em frente a casas ou lojas onde comida é distribuída gratuitamente por acreditar que alimentos abençoados pela Ashura deixam o organismo imune contra doenças.

O aposentado Mohamed H., 58, é entusiasta da Ashura, mas diz que o ritual não é o mais importante. "O que realmente importa é a fé e a crença num poder que alivia os sofrimento dos humanos."

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.