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Análise

Onda contra Putin aumenta, mas faltam alternativas

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os protestos contra a fraude denunciada no pleito parlamentar de domingo na Rússia são os maiores já enfrentados por Vladimir Putin desde sua ascensão, em 1999, e explicitam um paradoxo.

Por um lado, demonstram que o poderoso Putin já não é unanimidade entre a classe média mais alta e intelectualizada do país.

Isso vinha se desenhando durante a gestão de seu pupilo Dmitri Medvedev. Putin chegou a ser vaiado recentemente, ao fazer uma de suas midiáticas aparições num evento de luta livre.

Os pouco menos de 50% de votos dados domingo a seu partido, o Rússia Unida, e os protestos subsequentes são apenas a cristalização de que há um sentimento anti-Putin em formação.

Muitos dos que o laureavam por botar ordem na confusão dos anos Boris Ieltsin, vendo seus arroubos autoritários como um "mal necessário" decorrente do atavismo que prenderia o russo comum à figura do homem-forte (seja ele um czar ou o secretário-geral), mesmo esses agora vão à rua contra Putin.

É o caso do cientista político A., que conversa desde 2000 com a Folha.

Ele esteve anteontem na área da estação de metrô Christiye Prudy, onde a polícia acabou com um grande protesto que havia sido autorizado -sinal de que mesmo o Kremlin sabe que exagerar na repressão é pedir por uma praça Tahrir eslava.

Ao fim do ato, os manifestantes foram andando até a região da praça Lubianka, onde foram detidos pelas forças de segurança.

"Eu vi um soldado da Omon [uma espécie de Bope russo] falando com o Ilya, dizendo que o entendia, mas que não podia fazer nada. Seja como for, duvido que alguém fora dali saiba quem é o Ilya", disse A.

Ilya é Ilya Yashin, líder do Solidariedade, grupo que organizou o ato. Assim como o ex-enxadrista Garry Kasparov, que encabeçou protestos menores em 2007, ele parece ser mais conhecido da mídia ocidental do que da russa.

Outros no palanque eram "outsiders" como o blogueiro Alexei Navalny e o crítico de rock Artemy Troitsky. O único político de peso é Boris Nemtsov, que serviu no governo Ieltsin e cujo partido tem apoio mínimo.

Só os comunistas seguem com uma fatia estável do eleitorado, mas ninguém vê Gennadi Ziuganov como um tipo de líder viável.

Assim, parece crescer um espaço para oposição na Rússia, mas faltam alternativas. Putin, contestado ou não, é ainda quem dá as cartas.

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