Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Análise
Principal poluidor do mundo, país investe em energia limpa
MARCELO LEITE DE SÃO PAULOA nuvem marrom que engolfou Harbin tem duas fontes principais: carvão mineral e veículos. As condições atmosféricas só dificultaram a dispersão de poluentes que já pairavam sobre a China, campeã mundial de poluição.
O país asiático tem reservas de carvão mineral suficientes para meio século. Já é o maior produtor do planeta e também o maior importador. Cerca de 80% da energia elétrica produzida no país provém de usinas térmicas alimentadas com carvão.
Um subproduto da queima desse combustível fóssil é a poeira inalável, partículas que atacam as vias respiratórias e até os alvéolos pulmonares, no caso do material mais fino (MP2,5). Com a aproximação do inverno, a demanda por aquecimento eleva ainda mais o consumo de carvão e, assim, as emissões de material particulado.
A Organização Mundial da Saúde recomenda que a concentração de MP2,5 não ultrapasse a média de 25 microgramas por m³ num dia. Em Harbin, registraram-se 600 microgramas por m³; alguns bairros alcançaram mais de 1.000 microgramas por m³.
A outra fonte principal da poeira inalável são veículos automotores. A frota chinesa, com mais de 240 milhões de veículos registrados em 2012 (dos quais 120 milhões são automóveis de passeio) ameaça ultrapassar a dos EUA (253 milhões em 2011).
Outros 20 milhões de veículos devem entrar em circulação na China até o fim deste ano. E, por ora, só há 260 milhões de motoristas na população de 1,36 bilhão.
Isso significa que, mesmo com a desaceleração do crescimento econômico chinês, episódios como o de Harbin voltarão a repetir-se (em janeiro passado, a concentração de MP2,5 alcançou 900 microgramas por m³ na própria capital, Pequim). É grande o potencial para que os protestos contra o excesso de poluição, hoje localizados, se espalhem pelo país.
A nova cúpula da ditadura chinesa, no entanto, não faz vista grossa para a nuvem marrom. O combate à poluição tem lugar destacado em seus planos de reforma.
Um dos objetivos ambiciosos é impedir que a queima de carvão continue a crescer depois de 2017. Se em 2011 o mineral representava 68,4% do consumo total de energia, nos próximos quatro anos terá de cair para 65%.
Nesse intervalo, US$ 275 bilhões serão aplicados em fontes alternativas de energia, como a solar, e na melhoria da qualidade do ar. A China, aliás, já é o maior investidor mundial em energia limpa.