Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Irã atribui fracasso de diálogo nuclear a racha das potências
Em mensagem a John Kerry, chanceler iraniano sugere que objeção da França levou a impasse na negociações
Secretário americano nega falta de sintonia entre aliados e diz que Teerã não foi 'capaz' de aceitar proposta
O Irã rebateu ontem acusações dos EUA de que teria provocado o fracasso das negociações do último fim de semana, em Genebra, na qual as partes chegaram perto de um acordo preliminar para romper o impasse acerca do programa nuclear iraniano.
Pelo Twitter, o chanceler Mohammad Javad Zarif se dirigiu ao secretário de Estado americano, John Kerry, para lembrá-lo do suposto racha na posição das potências que negociam com Teerã.
"Senhor secretário, foi o Irã quem destruiu mais da metade da proposta americana na quinta-feira à noite e a criticou publicamente na manhã de sexta-feira?", questionou Zarif, numa aparente menção às objeções formuladas pela França antes mesmo do fim das conversas.
A rejeição do chanceler francês, Laurent Fabius, à proposta dos EUA teve papel fundamental para impedir um entendimento. Paris considerou insuficiente a oferta, que exigia do Irã o congelamento de boa parte das atividades nucleares em troca de alívio modesto das sanções.
"Jogar com as palavras não mudará nada em relação ao que aconteceu entre o (P)5 + 1 entre as 18h de quinta-feira e as 17h45 de sábado. Isso só levará à deterioração da confiança [mútua]", alertou Zarif, numa referência ao grupo de potências que reúne EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha.
A tese de racha no campo das potências foi corroborada por um diplomata russo consultado pela Reuters. "O rascunho da proposta americana agradava ao lado iraniano. [...] Mas como a decisão ["¦] depende de consenso, não foi possível chegar a um acordo final, infelizmente."
A alta expectativa, gerada em parte pelo pragmatismo demonstrado pelo Irã desde a eleição do presidente Hasan Rowhani, em junho, esbarrou em questões sensíveis, entre as quais o reator nuclear em construção na cidade iraniana de Arak.
Uma vez concluído, o reator poderia, em tese, facilitar a obtenção de uma bomba de plutônio, objetivo descartado pelo Irã. A França exigia mais garantias sobre Arak. Já entusiastas do acordo, incluindo americanos e britânicos, pareciam apoiar-se na ideia de que Teerã está longe da capacidade técnica para uma bomba de plutônio.
Kerry, contudo, minimizou relatos de racha entre aliados e disse que os iranianos "não foram capazes" de aceitar a proposta. Em entrevista à BBC, afirmou que chegou-se "muito perto de um acordo."