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Entrevista da 2ª Mauricio Cárdenas

Estatal colombiana de óleo é uma Petrobras transparente

MInistro da fazenda da colômbia afirma que segredo do país para crescer acima de 5% é não mudar a regra do jogo

TONI SCIARRETTA DE SÃO PAULO

Um país que superou os anos negros da guerrilha urbana, investe em infraestrutura pesada e aposta em reformas nada populares que mexeram na folha de pagamentos, nos benefícios sociais e na partilha dos impostos.

É a Colômbia, país latino-americano que mais melhorou o ambiente de negócios segundo o Banco Mundial.

Sem malabarismos nas contas públicas, o país vizinho desbancou o Brasil do posto de "queridinho" dos mercados internacionais.

E já colhe os resultados alcançados: crescimento de 5,1% em 2013, de longe o maior do continente (no Brasil, a previsão é 2,3%), inflação em 1,8% (a brasileira está em 5,7%) e juros de 3,25% ao ano (10% no Brasil).

Na comparação com os indicadores brasileiros, só perde no emprego --o desemprego colombiano está em 7,8%; no Brasil desceu a 4,6%.

Para Mauricio Cárdenas, ministro da Fazenda da Colômbia, a credibilidade do país também se traduz no valor de mercado da petroleira Ecopetrol, que tem 80% da ações nas mãos do governo.

A colombiana tem um terço do tamanho da Petrobras, mas em valor de mercado já se aproxima da brasileira: desde novembro de 2007, quando entrou na Bolsa, saltou de US$ 27 bilhões para US$ 80 bilhões.

A brasileira, que fez a maior oferta de ações do planeta em 2010 (US$ 70 bilhões), despencou de US$ 197 bilhões para US$ 90 bilhões.

Para Cárdenas, a diferença entre as estatais é a gestão. "Tem que ser muito transparente para dar subsídios."

-

Folha - A Colômbia foi o país em que mais melhorou o clima de negócios na região. Como isso aconteceu?

Mauricio Cárdenas - Estamos sempre atentos a medições comparativas internacionais. Definimos um objetivo muito concreto e pontual: entrar na OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que exige harmonização dos indicadores e estatísticas]. Fizemos reformas do Estado de longo prazo para estimular investimentos, melhorar o ambiente de negócios, e assegurar o ingresso na OCDE. E já fomos indicados.

Qual foi a dificuldade para implementar essas reformas?

Enfrentamos resistências para reduzir os impostos na folha de pagamento, um tema muito sensível na América Latina, porque essa arrecadação vai para programas assistenciais.

No Brasil, vai para o BNDES [que recebe recursos do FGTS e do Fundo de Amparo ao Trabalhador]. No México, vai para a habitação.

No caso da Colômbia, financiava os serviços de capacitação do trabalhador e os afastamentos por doença. Queríamos passar a tributar mais a renda das empresas.

Como os obstáculos políticos foram vencidos?

Deixamos claro, e expresso na lei, que as pessoas e os grupos de interesse não iriam perder nada com a mudança. Asseguramos pisos de recursos para cada programa. E acabamos com a incerteza.

Como foram as negociações?

O presidente [Juan Manuel] Santos depositou todo o seu capital político nas reformas. Tem que ter respaldo popular e maioria no Congresso.

A Constituição concedeu direitos e benefícios sociais, mas agora também incluímos o princípio da sustentabilidade fiscal para garantir esses direitos.

A mudança de governo não é um risco para as reformas?

Tem que esquecer os objetivos de curto prazo em favor dos estratégicos e de longo prazo. As reformas têm que trazer resultado.

A reforma tributária está estimulando a criação de empregos formais.

Já é possível perceber os efeitos das reformas?

A Colômbia cresceu mais de 5% e será o país latino-americano com o maior crescimento em 2013. Será o 15º país de maior crescimento no mundo.

É o país com a menor inflação da região e a maior taxa de investimento.

Essa credibilidade se estende às empresas colombianas?

Falamos sobre o caso da Ecopetrol [estatal colombiana de petróleo] e da Petrobras. Qual é a nossa política [de preços dos combustíveis]?

Somos muito parecidos em geral: as duas empresas estão na Bolsa, têm ações em Nova York, têm parcerias com outras companhias petroleiras no mundo. No nosso caso, porém, temos tratado com total transparência os subsídios.

Na Ecopetrol se pagam os combustíveis pelo preço internacional. A política de preço dos combustíveis não passa pelo governo.

O Brasil e a Colômbia têm investimento em rodovias da ordem de US$ 250 bilhões. Há disputa pelo mesmo dinheiro?

Há espaço para todos.

Na Colômbia, há muitas empresas brasileiras de construção civil. Na Colômbia custa mais para fazer as estradas, devido à geografia. A única forma de fazê-las rentáveis foi fazer parcerias público-privadas.

Damos garantia de tráfego e asseguramos o ingresso de recursos.

Na construção, queremos que o concessionário assuma os investimentos.

Exceto nos túneis, em que compartilhamos os riscos.

No Brasil, os investidores dizem que a rentabilidade das estradas é baixa, mas na Colômbia algumas estradas têm retorno ainda menor. Como elas são viáveis?

Se há competição é porque as empresas sabem que se trata de um investimento rentável.

A Colômbia ocupou o espaço do Brasil de queridinho dos mercados internacionais?

A Colômbia foi muito consistente em suas políticas e reformas.

Desde o início, há 15 anos, não fizemos grandes mudanças nas regras, mas fomos aperfeiçoando o modelo.

A consistência faz parte do momento econômico da Colômbia.


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