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Após oito anos em coma, morre Ariel Sharon, ex-premiê de Israel

À frente do país de 2001 a 2006, Sharon deixa legado belicista, apesar de liderar saída de Gaza

Político conservador sofreu derrame quando estava no cargo e ficou hospitalizado até sua morte, aos 85 anos

DIOGO BERCITO DE JERUSALÉM

Mantido em estado vegetativo desde 2006, após décadas de controversa carreira política e militar, o ex-premiê israelense Ariel Sharon (2001-2006) morreu ontem, aos 85 anos, deixando como legado a fama de belicista e, na contramão, a histórica retirada da faixa de Gaza que ele liderou durante seu mandato.

Apelidado "Arik", Sharon nasceu em 1928 no vilarejo de Kfar Malal. Aos 14, juntou-se às fileiras da Haganah, versão embrionária das Forças de Defesa de Israel.

O início de sua biografia é um apanhado de sucessivas promoções no Exército, incluindo ter comandado uma companhia de infantaria na Guerra de Independência de 1948 e ter fundado, em 1953, a unidade de elite responsável por retaliar ataques árabes para além das fronteiras.

Como militar, ele impressionou e irritou com a tendência de atropelar as ordens de seus superiores. Por isso, diz-se que ganhou como desafeto David Ben-Gurion, visto como pai do Estado israelense.

As vitórias bélicas foram paralelas aos dramas familiares, como a morte da primeira mulher, com cuja irmã mais tarde se casou. Um de seus filhos morreu aos 11 anos, enquanto brincava com um antigo rifle.

No Exército, comandou, nos anos 1960, tanto as regiões norte quanto sul, tendo também sido líder da divisão de treinamento. As vitórias nas guerras de 1967 e 1973 lhe renderam títulos de "Rei de Israel" e "Leão de Deus".

A carreira de Sharon tomou a senda política na década seguinte, em passagem pelo Parlamento, em 1973, seguida de renúncia. Em 1975, assessorou o premiê Yitzhak Rabin na segurança.

No governo, Sharon foi ministro da Agricultura e, em 1981, assumiu o Ministério da Defesa durante o período crítico da Guerra do Líbano.

Foi nesse país inimigo que os papéis de sua carreira se mancharam, na opinião pública, após Sharon ser considerado por uma comissão de inquérito como "pessoalmente responsável" pelo massacre de palestinos em Sabra e Shatila, em Beirute. Retirado da Defesa, foi realocado, em 1984, como ministro da Indústria. Em 1990, liderou o Ministério da Habitação.

Em 2000, após visita à Esplanada do Templo (das Mesquitas, para os palestinos), local sagrado para judeus e muçulmanos, Sharon desencadeou revoltas que culminaram na Segunda Intifada, levante palestino com centenas de mortos em ambos os lados.

Meses depois, responsável por reformular o partido de direita Likud, Sharon foi eleito em 2001 para o cargo de primeiro-ministro com a maior margem de vitória na história de Israel. Ele foi reeleito em 2003, após ter convocado eleições antecipadas.

Na liderança do país, em seu último grande feito como político e militar, Sharon manobrou o governo e o Parlamento para aprovar a retirada dos assentamentos israelenses na faixa de Gaza, em um gesto de grande dano entre o eleitorado colono.

Seu ato concessivo, depois das décadas em que promoveu a expansão de assentamentos, levou ao fortalecimento da organização terrorista palestina Hamas, que tomou o controle de Gaza.

Mas Sharon não testemunhou os desdobramentos de seu último gesto de liderança, assim como não viu as insurgências da Primavera Árabe ou a crise na Síria.

Tampouco teve a oportunidade de completar os planos de uma suposta retirada da quase totalidade dos territórios ocupados da Cisjordânia, no que teria sido seu grande feito como estadista.

Em 4 de janeiro de 2006, Sharon sofreu um derrame com hemorragia cerebral, que lhe deixou por oito anos em coma. Em 2013, médicos haviam detectado atividade cerebral, em uma última fagulha de sua resistência.

Ele morreu em um hospital na região de Tel Aviv, deixando dois filhos e a herança de ter participado da história militar do país nas fileiras da liderança. Seu funeral acontecerá amanhã.

"As duas tragédias na política moderna do Oriente Médio que fazem você se perguntar se Deus quer paz na região ou não são o assassinato do [premiê Yitzhak] Rabin e o derrame de Sharon", disse Bill Clinton, ex-presidente dos EUA, em 2011.


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