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Irã evita o 'Morte aos EUA' nos 35 anos da revolução

Governo se distancia de slogan, em meio a diálogo com americanos

Regime islâmico fará aniversário na terça; momento atual é de negociação sobre o programa nuclear

SAMY ADGHIRNI DE TEERÃ

Na manhã de terça-feira, multidões sairão às ruas das cidades iranianas para comemorar o 35º aniversário da Revolução Islâmica, máxima celebração da ideologia oficial.

Mas, neste ano, o governo tentará manter distância do grito de "Morte aos EUA", popular entre conservadores. Os festejos coincidem com os primeiros passos de um ensaio de reaproximação entre Teerã e Washington, rompidos desde 1979.

Movidos por pragmatismo, diplomatas dos dois países já conversam pessoalmente e posam para fotos.

Em setembro, o presidente Barack Obama telefonou para o colega Hasan Rowhani, no primeiro contato direto entre dirigentes dos dois países em três décadas. O diálogo foi decisivo para o recém-implementado acordo sobre o programa nuclear.

"As conversas são multilaterais, mas esta é, basicamente, uma negociação entre iranianos e americanos", diz um diplomata europeu.

Pelo acordo, a princípio válido até julho, o Irã se compromete a frear sua capacidade nuclear e a aceitar monitoramento mais intrusivo da ONU. Em troca, obteve o alívio parcial das sanções que devastam sua economia.

Contatos secretos entre Irã e EUA começaram em 2011, mas só prosperaram depois que Rowhani assumiu a Presidência, em agosto. "As finanças públicas estão desastrosas. Não dava para continuar assim", diz um analista próximo de Rowhani.

A pressão econômica, contudo, não basta para explicar o recuo iraniano, segundo o ex-diplomata britânico Michael Axworthy, da Universidade Exeter. Ele diz que o Irã optou pela normalização com os EUA por estar satisfeito com seus avanços nucleares.

Já os americanos acenam para o Irã de olho na cooperação com um país cuja influência é incontornável em três frentes: Iraque, Afeganistão e Síria.

"Uma melhora nas relações estimularia o Irã a perturbar menos a própria região, já que se sentiria menos ameaçado pelos EUA", escreveu Mohsen Milani, da Universidade South Florida, na revista "Foreign Affairs".

Um diplomata europeu vê nos acenos americanos ao Irã uma aposta de longo prazo.

"A disputa geopolítica China-EUA é o embate do futuro. Obama está fazendo o necessário para trazer o Irã de volta à órbita ocidental e afastá-lo dos chineses."

A hostilidade começou meses após a Revolução Islâmica, quando estudantes invadiram a Embaixada dos EUA em Teerã e mantiveram 52 reféns durante mais de um ano.

Nos anos 1980, EUA e governos ocidentais apoiaram o Iraque na guerra contra o Irã. Tensões dispararam no início dos anos 2000, após o 11 de Setembro e a revelação de atividades nucleares iranianas clandestinas.

Ao quebrar um tabu, a reaproximação enfrenta resistências. O líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, acusou ontem os EUA de ainda buscar o fim do regime. Mas pediu aos conservadores que deem chance a Rowhani.

Na semana passada, Obama conseguiu esvaziar, graças à opinião pública favorável à diplomacia, uma frente parlamentar americana que pressionava por novas sanções ao Irã.

Obama também parece inclinado a enfrentar os aliados Israel e Arábia Saudita, contrários ao diálogo com o Irã.

"O acordo interino mostra que a diplomacia pode surtir efeito se os líderes estiverem dispostos a correr risco", diz Reza Marashi, do Conselho Nacional Iraniano-Americano, pró-normalização. "Para consolidar a reaproximação, os dois lados terão que continuar a se arriscar."


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