Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Irã cobra 'retomada' de relação com Brasil

Chefe do Legislativo convida parlamentares brasileiros a Teerã e propõe cooperação maior, como 'na época de Lula'

Desinteresse político de Dilma, aliado a sanções ao Irã, faz o comércio bilateral recuar de US$ 2,4 bi para US$ 1,6 bi

SAMY ADGHIRNI DE TEERÃ

O chefe do Legislativo do Irã, Ali Larijani, um dos homens mais poderosos do regime islâmico, recebeu quatro parlamentares brasileiros, a quem transmitiu a expectativa iraniana de reverter o declínio nos laços bilaterais.

"Nossas relações poderiam ser muito maiores", disse Larijani ontem à comitiva formada pelos senadores Valdir Raupp (PMDB-RO) e Eduardo Suplicy (PT-SP) e pelos deputados Ivan Valente (PSOL-SP) e Edson Santos (PT-RJ).

A visita dos políticos brasileiros a Teerã ocorre por iniciativa do Irã, que sinaliza ter apostado no diálogo parlamentar para compensar o esfriamento em outras frentes.

"Tivemos uma cooperação muito boa, especialmente na época do presidente Lula, que até se envolveu na questão nuclear", disse Larijani, numa referência à proposta turco-brasileira para apaziguar tensões nucleares, em 2010.

O plano, costurado em visita de Lula ao país, determinava que o Irã despacharia ao exterior seu urânio mais enriquecido. Em troca, receberia do Ocidente o combustível nuclear que alega ser necessário para fins medicinais.

A proposta acabou torpedeada pelas potências ocidentais, apesar de o presidente dos EUA, Barack Obama, ter enviado a Lula, semanas antes da viagem do petista, uma carta secreta anunciando apoio à iniciativa turco-brasileira. A Folha revelou o teor da correspondência.

"Lula me mostrou a carta", disse Larijani, presenteado por Suplicy com uma camisa oficial da seleção brasileira.

O governo Dilma Rousseff não deu continuidade à tentativa de mediação e se afastou do Irã e de outros países fora da órbita tradicional da política externa brasileira.

O desinteresse político da presidente é tido por diplomatas e analistas como um dos fatores que derrubaram o comércio bilateral, dominado por exportações brasileiras de milho, açúcar e carne. A corrente passou de US$ 2,4 bilhões (R$ 5,7 bilhões) em 2011 para US$ 1,6 bilhão (R$ 3,8 bilhões) no ano passado.

"A cooperação comercial caiu, e parte disso se deve às sanções. Mas sabemos que vocês podem muito mais. Da nossa parte, não há nenhum empecilho", disse o iraniano.

Larijani lembrou que potências ocidentais se movimentam para reatar laços comerciais com o Irã, na esteira do acordo pelo qual Teerã aceitou frear seu programa nuclear em troca de um alívio parcial das sanções.

OPORTUNIDADES

Grandes oportunidades de negócios se abrem com a convergência de interesses.

Iranianos precisam recuperar investimentos e retomar exportações de petróleo em larga escala, enquanto ocidentais voltam a disputar abertamente o mercado da república islâmica, que tem 77 milhões de habitantes e imensas reservas de gás e petróleo.

"Espero que essa visita abra as portas para continuarmos [a relação da era Lula]", disse Larijani, que também cobrou do Brasil maior participação em gestões diplomáticas no Oriente Médio.

Os parlamentares brasileiros, que chegaram no sábado e retornam ao Brasil hoje, concordam que as relações estão abaixo do potencial.

Valdir Raupp, um dos líderes da ala governista do PMDB, prometeu levar o tema a Dilma. "Houve uma redução, mas as pontes não foram dinamitadas. O potencial comercial é enorme", declarou o senador à Folha.

Valente fez críticas mais diretas ao distanciamento do governo brasileiro: "Lula teve uma postura ousada e abriu uma porta importante. Foi um erro esse recuo".

Para o deputado do PSOL, o Brasil deveria fazer parte dos países que vêm respondendo à "sinalização importante" enviada pelo Irã por meio do acordo nuclear.

Edson Santos disse que a viagem ajudará a desconstruir a imagem negativa do Irã. Suplicy, por sua vez, elogiou o ensino superior iraniano e o programa de remessas de dinheiro pelo qual cada cidadão recebe o equivalente a US$ 20 mensais --o senador afirmou que o sistema se assemelha à sua proposta de programa de renda mínima.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página