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Os três lados da Praça Lênin

Na capital da Crimeia, praça reúne moradores pró-Rússia e pró-Ucrânia, além daqueles a favor da independência da região

DO ENVIADO À CRIMEIA (UCRÂNIA)

Enquanto o presidente russo, Vladimir Putin, se manifestava ontem pela primeira vez sobre a crise na Crimeia, membros do Partido Comunista da península coletavam assinaturas na praça Lênin contra a eventual derrubada da estátua do fundador do Estado soviético no local.

Um homem passou o dia ali, empunhando uma bandeira e pronto para proteger o monumento de algum tipo de ataque. No mesmo lugar, um grupo de ativistas segurava faixas a favor do domínio da Ucrânia sobre a região.

Ao mesmo tempo, jovens de uma geração pós-soviética defendiam a independência da Crimeia, que, para eles, não deve ficar sob domínio nem de Moscou nem de Kiev.

A diversidade de posições políticas nas ruas da capital da Crimeia, Simferopol, simboliza a crise atual na península: sob domínio ucraniano, invadida pelos russos e com um governo autônomo, chamado de provisório.

A Crimeia foi anexada pelos russos em 1783 e transferida à Ucrânia, como parte da União Soviética, em 1954.

Em 1994, três anos após a independência dos ucranianos, garantiu-se a eles o poder sobre seu território, incluindo a polêmica península, que vive como uma república autônoma: presta contas a Kiev, mas tem um Parlamento próprio.

"Minha geração não quer nenhum dos dois lados: nem russos, nem ucranianos. A Crimeia tem sua própria cultura, sua população, temos que tentar buscar nosso caminho", diz Anton Rosovsky, 25, um dos líderes de um grupo que passa o dia na praça Lênin militando.

Mas eles são minoria, e sabem disso. Com ao menos 60% de sua população com origem russa, a Crimeia está muito mais próxima de Moscou do que de Kiev, admitem os próprios ucranianos que vivem em Simferopol.

O "obrigado" em lugares públicos, como supermercados, costuma ser em russo, e não em ucraniano.

"Eu cresci como uma criança soviética. Nasci em Simferopol em 1978 e, até meus 13 anos, era um soviético. Não sou separatista, mas não tem como não gostar dos russos", diz o motorista de táxi Andrei Shkesi, 36.

E é justamente nessa simpatia da população pelos russos que o presidente Vladimir Putin aposta para, um dia, obter definitivamente o poder sobre a Crimeia, onde a Rússia mantém sua frota para o mar Negro, considerada estratégica.

Basta ver a reação pacífica das pessoas à recente chegada clandestina de soldados de Moscou: houve até tietagem para fotos. A atitude "amigável" dos militares também busca a simpatia de quem não é russo.

É um jogo calculado, inclusive o discurso de que essa tropa não identificada é composta por forças locais pró-Rússia.

Especialistas em política local apostam que, se houvesse um plebiscito hoje, a maioria votaria para se juntar a Moscou. Usam como base, entre outras coisas, a votação expressiva obtida pelo presidente deposto da Ucrânia, Viktor Yanukovich, aliado de Putin, nas eleições de 2010.

O problema é que acordos foram assinados no passado e teoricamente não poderiam ser rompidos à força.

Segundo censo recente, dos 2 milhões de habitantes, cerca de 60% são russos, 25% ucranianos e o restante, de origem tártara, etnia deportada da Crimeia pelo ditador Josef Stálin, durante a Segunda Guerra Mundial, sob a acusação de colaborar com os nazistas.

Ontem, na praça Lênin, os três lados --a favor da Rússia, da Ucrânia ou de nenhum dos dois-- disputavam democraticamente o espaço, apesar de um empurrão ou outro nas discussões mais acaloradas.

Entretanto, ali do lado, no alto do prédio do primeiro-ministro, tremulava uma bandeira russa junto à da Crimeia. Foi hasteada após o grupo pró-Moscou tomar à força o poder político do Parlamento em protesto contra a derrubada de Yanukovich.

Aliado de Putin, o novo premiê, Sergei Axionov, quer acelerar para 30 de março um referendo para dar mais autonomia à região, como sonha Moscou.


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