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'Banco podre' absorverá dívida espanhola

Mariano Rajoy, futuro primeiro-ministro, planeja criar organismo para salvar as instituições financeiras do país

Bancos espanhóis, entupidos com grande volume de "ativos tóxicos", estão entre os mais vulneráveis da UE

Fernando Canzian/Folhapress
Loja em Madri com desconto de 50% para tentar alavancar as vendas; consumo caiu com a crise que afeta a Europa
Loja em Madri com desconto de 50% para tentar alavancar as vendas; consumo caiu com a crise que afeta a Europa

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

O futuro primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, planeja criar um "banco podre" estatal para absorver partes insolventes do sistema bancário do país. Rajoy, do PP (Partido Popular), assume o governo nesta quarta-feira.

O objetivo é livrar os bancos de dívidas consideradas impagáveis e limpar seus balanços, para que tenham condições de aumentar a concessão de empréstimos.

Os bancos espanhóis estão entre os mais vulneráveis na Europa. Eles seguem entupidos com "ativos tóxicos" (créditos de difícil recuperação) gerados na explosão da "bolha" imobiliária em 2007/08.

A participação da banca da Espanha no conjunto dos 17 países que usam o euro é de 12%. Mas eles tomaram em novembro 26% de todo o dinheiro que o BCE (Banco Central Europeu) injetou emergencialmente no mercado para dar liquidez ao sistema.

Os bancos espanhóis precisaram de € 98 bilhões do BCE no mês passado (R$ 235 bi), 30% a mais que em outubro.

A criação do "banco podre" significa, na prática, que o Estado comprará dos bancos créditos que dificilmente serão recuperados, aliviando os seus balanços.

A medida é considerada crucial para tirar a Espanha da crise no médio prazo. Mas vai comprometer os planos de reduzir de 6% do PIB (Produto Interno Bruto) para 4,4% o deficit fiscal em 2012.

Na semana passada, a Espanha conseguiu se financiar sem dificuldades no mercado, emitindo € 6 bilhões em bônus estatais. Pagou juros entre 4% e 5,5% ao ano.

DEPENDÊNCIA

A economia espanhola é altamente dependente do crédito bancário, que secou nos últimos anos, derrubando a atividade e o consumo.

O país deve fechar 2011 com o maior desemprego da zona do euro: 22,5% (5 milhões de pessoas). O PIB deve crescer 0,7% neste ano, mas tende a zero em 2012.

A "indigestão" de dívidas impagáveis no sistema bancário espanhol vem principalmente do setor imobiliário. Ele viveu um boom de crédito até 2007, quando os preços passaram a cair e milhões de famílias e incorporadoras deixaram de pagar os bancos.

Em quatro anos, os preços dos imóveis na Espanha caíram 31%. O governo estima em 700 mil o número de unidades prontas e vazias.

Os bancos já passaram por uma violenta onda de fusões, mas seguem com suas carteiras congestionadas por créditos de difícil recebimento.

A hipótese de um "banco podre" cresceu após o lucro dos bancos locais cair 15,5% de janeiro a setembro, para

€ 9,3 bilhões, pouco mais do que os ganhos somados de Itaú Unibanco e Bradesco.

Sem o resgate estatal, o volume de financiamentos na Espanha tende a seguir ladeira abaixo. O governo também tomaria a medida para evitar o que alguns já veem como hipótese: quebras em cadeia.

O Bankia, produto recente da fusão de sete instituições, por exemplo, anunciou que, sem medidas alternativas, será obrigado a encolher em 20% suas operações.

A instituição é uma das que seriam beneficiadas pela criação de um "banco podre" estatal na Espanha.

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