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Ucrânia acusa Rússia por ação militar
Tropas teriam tomado usina de gás ucraniana perto da fronteira com a Crimeia, que hoje deve aprovar união com russos
Incidente terminou sem violência, mas elevou a tensão a poucas horas do início da consulta popular na região
A poucas horas do início do referendo que deve aprovar a união da península da Crimeia à Rússia, o governo da Ucrânia acusou tropas de Moscou de terem entrado no país e tomado controle de uma usina de gás.
Segundo Kiev, 80 militares tomaram a vila de Strilkove, que fica na Ucrânia, mas fora da Crimeia (região que já está ocupada por russos).
Eles teriam usado quatro helicópteros e três blindados. Não houve disparos. Não estava claro, até a noite de ontem, se as tropas russas se mantinham no local.
Uma declaração atribuída a um oficial russo diz que a ação visou a proteção de uma estação de gás contra ataques "terroristas". O governo russo não se manifestou.
Em nota, o governo da Ucrânia disse que "se reserva o direito de usar todas as medidas necessárias contra a invasão militar da Rússia".
O episódio acirra a crise em meio ao referendo sobre a anexação da Crimeia ao território russo. Ontem, a população na capital Simferopol já celebrava um resultado pró-Moscou mesmo antes da contagem de votos.
O governo da península quer divulgar até o fim da noite o resultado da consulta para começar a pôr em prática as promessas de oficializar a mudança, incluindo a nacionalização de empresas ucranianas e a troca da moeda local pela russa.
Espera-se que a população, de maioria russa, vote em peso para deixar a Ucrânia e virar parte da Rússia --especula-se aprovação de até 90% dos eleitores.
Ontem, centenas de pessoas carregavam bandeiras russas e da Crimeia na praça Lênin em meio a um show cultural num palco. A Folha circulou pela cidade e não encontrou campanha a favor da Ucrânia. No fim da noite, por volta das 23h, soldados encapuzados ligados à Rússia patrulhavam as ruas do centro.
RESOLUÇÃO
Enquanto isso, em Kiev, o Parlamento ucraniano aprovou ontem uma resolução que dissolve o da Crimeia. É um gesto mais político que prático, afinal um governo não reconhece o outro desde a recente queda do então presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, pró-Moscou.
Já a Rússia vetou no Conselho de Segurança da ONU uma resolução proposta pelos EUA condenando a realização da consulta.
Observadores internacionais encontraram resistências para acompanhar de perto a consulta popular, assim como a imprensa estrangeira é monitorada, sendo inclusive orientada oficialmente a não publicar "informações negativas".
Na noite de ontem, soldados encapuzados invadiram o Hotel Moscou, onde parte da imprensa estrangeira está hospedada, em Simferopol. Segundo o governo da Crimeia, foi um "alarme falso".
Em meio a esse contexto político, paira incerteza entre os 2 milhões de moradores da Crimeia: o que acontecerá a partir de amanhã?
Com apoio dos EUA e de potências ocidentais, o governo da Ucrânia considera o referendo ilegal.
Já o presidente da Rússia, Vladimir Putin, deve dizer que respeita a decisão da população e, diante de um resultado favorável, sinalizar apoio para anexar a Crimeia.
Teme-se que, enfim, possa começar algum tipo de confronto militar entre os dois países. Ontem, duas pessoas morreram em Kharkiv, leste da Ucrânia, em confrontos entre militantes pró-Ucrânia e pró-Rússia.