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Mesmo em paz, Irlanda do Norte ainda vive 'guerra fria'

Católicos e protestantes continuam separados 16 anos após acordo de paz

Muros dividem os que querem manter região parte do Reino Unido e os que desejam união à República da Irlanda

LEANDRO COLON ENVIADO ESPECIAL A BELFAST (IRLANDA DO NORTE)

Um grupo de protestantes acampa desde o ano passado com bandeiras britânicas na esquina da avenida Twaddell, no norte de Belfast, a poucos metros da fronteira de separação da principal avenida do bairro de Ardoyne, dominado por católicos.

A tensão aumentou em 12 de julho, data de celebração da vitória do rei protestante Guilherme 3º sobre o católico Jaime 2º em 1690.

Em 2013, os protestantes entraram em confronto com a polícia, que os impediu de se aproximar da área católica durante a tradicional marcha que marca o dia.

Com faixas e bandeiras, decidiram então ficar de prontidão no local. Entre eles está Jackie Fletcher, 40. "Vamos ficar aqui até poder completar o trecho da marcha", diz.

A cena é símbolo de uma espécie de "guerra fria" na Irlanda do Norte depois do acordo de paz de 1998.

Os jovens continuam em escolas segregadas, muros ainda dividem a população, os hospitais não se misturam, e a polícia mantém vigilância noturna para evitar confrontos entre unionistas, aliados dos britânicos, e os nacionalistas, que querem a separação do Reino Unido para se unir à República da Irlanda.

"É melhor assim do que a guerra", definiu à Folha Michael Culbert, ex-membro do IRA (extinto braço armado dos nacionalistas). Ele ficou preso entre 1978 e 1994 por ter matado um policial.

Na noite do dia 15 passado, uma bomba foi deixada perto de uma patrulha onde havia quatro policiais, explodindo ao lado de carro com um pai e três filhos. O Sinn Féin, partido separatista, culpou seus dissidentes.

Somente no segundo semestre passado, quatro episódios de bombas foram relatados pelas autoridades. Ao menos 45 viaturas policiais monitoram todas as noites os principais pontos de risco.

"Se não mostrarmos presença, certamente vai ter confronto", diz Mark McEwan, chefe da polícia local.

A Folha viajou a Belfast na semana passada a convite do governo britânico para ver de perto o processo de pacificação da região, marcada por 30 anos do conflito que matou 3.600 pessoas.

Não se pode negar que há diálogo entre os dois lados, sobretudo depois do acordo de 1998 que manteve a ligação da Irlanda do Norte ao Reino Unido, porém com o poder local compartilhado.

Hoje, o primeiro-ministro, Peter Robinson, é do partido protestante DUP, e o vice, Martin McGuinness, ex-IRA, é do Sinn Féin.

Ou seja, em tese, nem há oposição e os inimigos trabalham lado a lado. Quem chega a Belfast, no entanto, logo percebe que os dois grupos estão longe da harmonia.

Os chamados "muros da paz" ainda cercam avenidas para separar a comunidade católica da protestante.

E não há muita perspectiva de derrubá-los. Recentemente, alguns até receberam grades no alto para controlar provocação entre jovens.

Da população de 1,8 milhão, 48% são protestantes e 45%, católicos. As escolas talvez sejam o símbolo maior do racha: 93% estudam em escolas controladas por um dos lados. Apenas 7% dos alunos estão nas "integradas".

O governo local nem sinaliza querer expandir esse modelo de ensino. "Não há nenhuma proposta formal para escolas integradas nem referência a isso no programa do governo", conta James Murphy, assessor do gabinete do primeiro-ministro.

Um dos argumentos para manter a separação é o respeito a cada uma das religiões. Por outro lado, isso reproduz nas novas gerações as diferenças que traumatizaram a região.

"O problema é que cada lado aprende a história da Irlanda do Norte por sua própria perspectiva e isso contribui para o desgaste", diz Evelyn Collins, chefe da Comissão de Igualdade do país.

Para Tim Losty, diretor de Relações Internacionais do governo, é possível falar em avanço nesses 16 anos: "Em termos de conflito, nós estamos criando um espaço de integração, de diálogo. Quando eu era criança, não havia solução. Não existe processo perfeito, mas estamos desenvolvendo um caminho".


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