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Clóvis Rossi

Democracia, a chave na Venezuela

Primeiro diálogo com a oposição é bom começo, mas as dificuldades à frente são imensas e complexas

Comecemos pelo lado positivo do diálogo entre oposição e governo na Venezuela: "O importante é que se iniciou o caminho, que é o mais transcendental para um país", como diz Julio Lattan, presidente da Frente de Advogados Bolivarianos.

Passemos agora ao papel da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), visto com desconfianças pela oposição e, no Brasil, pelos críticos da política externa:"Esse conflito forneceu à Unasul seu mais significativo teste até hoje; e, apesar dos resmungos domésticos e internacionais a respeito de sua independência [em relação ao governo], ela se mostrou à altura da ocasião", escreve David Smilde, lúcido blogueiro sobre Venezuela do Wola (Washington Office on Latin America).

Ou seja, a aposta do Brasil na Unasul e no diálogo passou airosamente pelo primeiro teste.

Mas era óbvio que essa primeira sessão não poderia ser suficiente para estabelecer a paz em um país tão tremendamente polarizado como a Venezuela.

Ressaltado o lado otimista, vamos às dificuldades. Primeira delas: sem incluir os estudantes, ausentes do diálogo desta semana, não há como desmontar as manifestações e pacificar a rua rebelada.

Segunda: sem que o governo se incline por anistiar os presos que participaram pacificamente das manifestações, é pouco provável que a oposição, mesmo a moderada (a única que foi ao diálogo), sente-se de novo à mesa.

Mas, mais importante que essas questões conjunturais, o que separa governo e oposição é a avaliação sobre o teor da democracia venezuelana. Para a oposição, é zero. Para o governo, é 100%.

Há fatos e opiniões que indicam que a oposição está mais perto da verdade. Para começar, recente pesquisa do Ivad (Instituto Venezuela de Análise de Dados) mostra que 55% dos consultados concordam com a oposição. Mais: o diretor para a América da respeitada Human Rights Watch, José Miguel Vivanco, diz que o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela é apenas "um apêndice do Executivo".

Não há democracia de verdade sem independência dos Poderes.

Até a igreja local afirma que a origem dos protestos, que já duram dois meses, "é a pretensão do partido oficial e das autoridades da República de implantar o chamado plano da pátria (criado por Hugo Chávez), por trás do qual se esconde a imposição de um governo totalitário", como diz monsenhor Diego Padrón, presidente da Conferência Episcopal Venezuelana.

Se o presidente Nicolás Maduro quer mesmo, como disse durante o diálogo de paz, conduzir um processo que leve "a altíssimos níveis de respeito, coexistência, convivência, com base na tolerância", terá forçosamente que aumentar substancialmente o teor de democracia.

Tem força para tanto? Duvida o blogueiro Smilde: "Maduro não parece ser uma liderança suficientemente forte para adotar uma nova direção. Nem ninguém é na coalizão [governista]. Isso a coloca em posição pobre para fazer concessões em um diálogo". Equivale a dizer que a bola da pacificação está com o presidente --e meio murcha.


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