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Alexandre Vidal Porto

País do futebol, mas não apenas

No auge do triunfalismo, fomos induzidos a um investimento que custará muito ao nosso país

Quando o professor de educação física não planejava a aula, nos mandava jogar futebol. Nessa hora eu sabia que sofreria uma sessão de tortura física e moral.

Usava óculos fundo de garrafa, e nunca houve um jogador pior do que eu. Era sempre o último a ser escolhido pelos times. Uma vez marquei um gol, mas foi porque a bola bateu em mim antes de entrar.

Já superei minhas diferenças com o futebol. No final de 2007, festejei o anúncio do Brasil como país-sede da Copa do Mundo de 2014.

Cerca de um ano depois, eu era um dos 79% dos brasileiros que, segundo dados do Datafolha, apoiavam a realização da Copa no Brasil. Hoje, a menos de dois meses do início do torneio, esse número caiu para 48%.

Eu sei que tem muita gente colecionando álbum de figurinhas dos times. As pesquisas, no entanto, não deixam dúvidas de que muitos mudaram de ideia em relação ao evento no Brasil.

Por que quem era a favor ficou contra? O que aconteceu?

Acho que, quando foi escolhido para sediar a Copa, o Brasil era outro, e nós brasileiros, também. Sentíamo-nos otimistas em relação ao lugar do nosso país no mundo.

A economia crescia, o desemprego diminuía e nos víamos como potência, emergindo.

Hoje, não é isso o que se sente. Pode-se culpar quem quer que seja: a conjuntura internacional, a inépcia do governo ou as dificuldades da vida. O fato é que os olhos do povo brasileiro já não brilham da mesma maneira.

Não se podem negar os avanços sociais das duas últimas décadas, mas tampouco há como evitar o sentimento de que se poderia ter feito muito mais do que se fez.

A sensação de desperdício de potencial é incontornável diante da denúncia frequente de escândalos de corrupção e descaso envolvendo o dinheiro público.

A Copa custará muito mais do que deveria custar. Os estádios, por exemplo, sairão por mais de R$ 8 bilhões, em lugar dos R$ 4,8 bilhões originalmente orçados.

Há acusações de superfaturamento, atrasos nas entregas e mortes de funcionários nas obras.

Isso sem mencionar falhas e atrasos em projetos urbanos relacionados ao evento.

O discurso das autoridades parece vir de outro planeta. Quem mora no planeta Terra e no país Brasil não tem como não sentir sua inteligência subestimada.

É como se vivêssemos em Pasárgada, onde tudo está ótimo e não existe problema algum. Teremos a melhor Copa do Mundo porque nos disseram que vai ser assim.

No auge do nosso triunfalismo, fomos induzidos a um investimento que custará muito ao nosso país --em termos materiais e de imagem.

Agora, racionalmente, nossa opção é fazer esse dinheiro render.

No entanto, não podemos esquecer de dizer a quem nos induziu a esse investimento o seguinte: o Brasil mudou.

Somos o país do futebol, mas não apenas. Por isso, não nos mandem para o campo jogar bola e parar de reclamar.


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