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Maioria em Ruanda, mulheres lideram reconstrução do país

Após morte e exílio de milhares de homens no genocídio de 1994, elas passaram a ser mais da metade da população

No Parlamento, 64% são mulheres, a maior taxa do mundo; no setor agrícola, elas são 65% dos produtores do país

FABÍOLA ORTIZ COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM KIGALI (RUANDA)

Duas décadas após o massacre que matou quase 1 milhão de tutsis e hutus moderados, Ruanda, pequeno país da África subsaariana, ainda luta para cicatrizar as memórias dos sobreviventes.

As mulheres passaram a ser mais da metade da população ruandesa --hoje, de 12 milhões-- após a morte e o exílio de muitos homens, devido ao genocídio ou à participação em grupos armados como a FPR (Frente Patriótica de Ruanda), liderada por Paul Kagame, o atual presidente.

Hoje, elas detêm mais de 50 das 80 cadeiras do Parlamento --64%, a maior taxa de congressistas femininas do mundo. A Constituição de 2003 definiu cota de 30% para mulheres no serviço público e igualdade de gênero na educação e na compra de terras.

"Sou ruandesa e não quero deixar nunca meu país", diz a deputada Veneranda Nyirahirwa, 43, uma das quatro mulheres entre os 11 parlamentares que o Partido Social Democrata elegeu em 2013.

"Houve tempo em Ruanda em que a mulher não podia trabalhar, muito menos estudar. Esta é uma conquista que nos faz felizes", acrescenta.

A proporção de mulheres agricultoras no país também é expressiva: 65% dos produtores são do sexo feminino. Joane Nkuliye, 41, tem uma propriedade de 25 hectares em Nyagatare, na Província do Leste, e é das poucas com produção em escala comercial.

"Me considero uma mulher ativista. Para falar a verdade, nós, mulheres, estamos fazendo um grande trabalho, muito mais que os homens", ri.

Ao ver muitas crianças sofrerem de desnutrição, Nkuliye decidiu, em vez de criar gado, cultivar feijão e banana. "Quero melhorar a vida das pessoas", afirma ela.

REDUÇÃO DA POBREZA

Aos poucos, o país avança nos indicadores sociais, mesmo em meio ao crescente autoritarismo de Kagame, que persegue ONGs e opositores.

Desde 2006, mais de 1 milhão de ruandeses saíram da pobreza. O acesso à saúde e à educação está em expansão, e a mortalidade infantil caiu 70% desde 2002. A expectativa de vida, porém, não passa de 57 anos para as mulheres e 54 para os homens.

Nos últimos dez anos, o PIB do país triplicou, e a renda per capita foi de US$ 220 para US$ 500. E, desde 2007, a economia cresce a uma média de 7% ao ano. Mas o salário médio do país é baixo: pouco mais de US$ 1 por dia.

Para a ministra da Agricultura, Agnès Kalibata, dar poder às mulheres é importante para a reconstrução. "Esta nação teve o pior pesadelo que qualquer país poderia ter. É nossa obrigação lembrar o que aconteceu, para garantir que nunca mais ocorra", diz.


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