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Análise

Ideia de acabar com o Mercosul é pouco factível e empobrece debate necessário

MONICA HIRST ESPECIAL PARA A FOLHA

O sentido instrumental do Mercosul em debates domésticos sobre política externa não é novidade. O surgimento de polêmicas, sempre polarizadas em períodos eleitorais, é faceta natural dos processos de integração regional. Todos os membros do bloco passaram por momentos de questionamento interno.

Excetuando o caso da Venezuela, as críticas foram sempre lideradas por setores alinhados ao receituário liberal das práticas comerciais. Pode-se também inverter a constatação: o vigor do "projeto Mercosul" esteve sempre associado às prescrições alternativas a esse receituário.

Não é por acaso que o período de maiores avanços no bloco coincidiu com as negociações para a Área de Livre Comércio das Américas. A partir da desativação dessa agenda, em 2005, o debate sobre integração nos países-membros perde densidade.

Além de um contexto global menos propício ao avanço dos processos de regionalização, desaparece um estimulo político essencial. As reações negativas ao ingresso da Venezuela e à suspensão do Paraguai já não espelharam um debate sobre implicações da regionalização, revelando apenas simplórias preferências ideológicas.

Mas, nesse ínterim, o Mercosul se afirmou silenciosamente como opção coletiva regional para tratar de temas sociais, de políticas de defesa, educacionais, de ciência e tecnologia, culturais e de identidade política --e, mais recentemente, da memória em direitos humanos.

Ao mesmo tempo, interconexões empresariais e o conhecimento do outro por via do turismo beneficiaram-se do choque de consumo proporcionado por políticas de inclusão de países-membros.

Assim, parece pouco factível a bandeira de "terminar com o Mercosul", como foi sugerido há poucos dias por um candidato presidencial brasileiro. Menos ainda quando o que se discute é o espaço de manobra do país para conduzir individualmente suas negociações comerciais.

Além de negar uma realidade abrangente de articulações intergovernamentais e intersociais, o debate tão necessário num contexto pré-eleitoral fica empobrecido.

Seria mais produtivo promover duas linhas de discussão diante das quais o Brasil, como principal sócio do bloco, deverá posicionar-se.

Sobre as negociações comerciais, cabe avaliar quão plausível seria a abertura de novas opções --como a de um ingresso solitário na Aliança do Pacífico-- em contraposição à consolidação de negociações já em curso, especialmente com a União Europeia.

No plano político, cabe perguntar quão consistente será a consolidação da democracia brasileira dissociada do fortalecimento coletivo do Estado de Direito de todos os membros do Mercosul.

E, como corolário, quais poderiam ser os mecanismos para fortalecer a cláusula democrática e o compromisso do bloco com a paz regional.


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