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Julia Sweig

A Copa e os estudantes dos EUA

O boom brasileiro no período 2003-2010 gerou uma nova onda de interesse entre jovens americanos

Cinco anos atrás, quando comecei a escrever sobre o Brasil, era quase impossível encontrar assistentes de pesquisas de 20 e poucos anos que fossem fluentes ou mesmo proficientes no português. No espanhol, sim, mas não no português.

O boom brasileiro de 2003-2010 gerou uma nova onda de interesse entre estudantes americanos, e as universidades rapidamente organizaram o envio de jovens para estudar ou ensinar inglês em Curitiba, Porto Alegre, Manaus, Salvador, Recife e, claro, Rio e São Paulo.

Algo semelhante se deu nos anos 50 e 60, mas perdeu força quando os militares tomaram o poder.

A geração atual de estudantes agora retornou aos EUA. Eles leem, falam e escrevem em português. Já fizeram estágios em favelas e organizações de direitos humanos, trabalharam em consultorias energéticas e firmas de corretagem de commodities, estudaram em laboratórios dos Brics, participaram de protestos e escreveram sobre a brutalidade policial em blogs.

Não demonstram a amargura de esperanças frustradas para o Brasil tão prevalente hoje em Wall Street e até entre seus professores nas universidades. Talvez pelo fato de suas expectativas em relação a seu próprio país serem tão circunspectas, eles perdoam mais naturalmente as falhas, contradições e decepções de outro país, do Brasil.

Mas eles também captam a história inegavelmente menos favorável que está em curso no Brasil. Quando a Copa tiver passado, quer o Brasil supere ou não a humilhação diante do Uruguai em 1950, ficará claro que gastar bilhões de reais em estádios públicos destoa da narrativa do próprio Brasil --e de seu sucesso real-- no investimento de recursos públicos na inclusão social, para levar pobres e semipobres a uma classe média viável.

Foi essa a mensagem dos protestos de 2013, e é essa a história que as principais organizações de imprensa escrita e TV vêm reportando desde então. E não é preciso ter diploma universitário para enxergar os riscos.

Essa rota de colisão é agravada pelos desafios concretos que o aumento dos homicídios e a alta geral da criminalidade e da insegurança podem criar. É claro que as vítimas da maior parte desta nova maré de violência são brasileiras.

Mas sei de pelo menos uma universidade americana destacada que, devido a preocupações de segurança relacionadas a protestos em torno da Copa, decidiu cancelar seu programa usual de envio de estudantes a todo o Brasil para o ritual americano do estágio de verão.

É possível que a decisão se deva a advogados excessivamente cautelosos e seguradoras hesitantes. Eu odiaria que mais universidades tomassem uma decisão semelhante.

Seus estudantes ficariam de fora da cornucópia de atividades que acompanham aqueles estádios controversos: o esporte e as festas em seu interior, os protestos do lado de fora, a blitz de mídia social efervescente produzida pela juventude, com toda sua fabulosa criatividade digital, os ciberataques que podem acompanhar tudo isso, a emoção da final e a chance de ver ou participar de um momento de importância maior na história brasileira.


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