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'ONU não é onipresente', diz general brasileiro

Brasileiro Carlos Alberto Cruz chefia na República Democrática do Congo a maior força de paz da história da entidade

Missão, com 20 mil homens, tem permissão para atacar rebeldes, mas violência perdura no país africano

RAFAEL SILVA DE ARAÚJO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Há quase um ano à frente da maior força de paz da história das Nações Unidas, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, 61, tem consciência das limitações da missão diante da violação sistemática dos direitos humanos.

"A ONU não é onipresente e não pode ser responsabilizada por crimes que não pode impedir. Ela depende da capacidade e dos recursos para intervir".

O general brasileiro comanda um contingente de 20 mil homens. A Missão da ONU para a Estabilização da República Democrática do Congo (Monusco) tem três batalhões --da África do Sul, do Maláui e da Tanzânia--, de uma companhia de operações especiais, uma bateria de artilharia e uma frota de helicópteros de combate.

Jamais uma força de paz da ONU teve de um poder de fogo tão grande, e jamais teve autorização para ações ofensivas --tradicionalmente, os "capacetes azuis" podem abrir fogo apenas em legítima defesa.

Vinte anos após o genocídio contra os tutsis, em Ruanda, a região africana dos Grandes Lagos continua a ser um cenário de massacre de civis motivado por rivalidades étnicas.

Segundo o general brasileiro, "os grupos que atuam na região são puramente criminais. Cometem muitas atrocidades contra a população civil. Saqueiam os vilarejos, incendeiam as casas, estupram as mulheres, assassinam e cortam as cabeças".

M23

Os rebeldes que integram o Movimento 23 de Março (M23) foram os primeiros a capitular diante da Monusco, em novembro de 2013.

"O combate durou aproximadamente três meses. Eles tinham um comportamento militar clássico. A batalha contra os rebeldes foi muito tradicional. Eles só voltaram à mesa de negociação porque tinham sido completamente derrotados militarmente", afirma Cruz.

O M23 surgiu no Congo para combater as Forças Democráticas de Liberação de Ruanda (FDLR), formadas por extremistas hutus que tinham comandado o genocídio de tutsis em Ruanda.

A ONU acusa o governo de Ruanda, do presidente Paul Kagame, de apoiar o M23.

Para Cruz, o M23 "é um grupo armado completamente ilegal que controlava uma parte do país. Eles criaram uma espécie de governo paralelo para cobrar impostos da população e explorar riquezas naturais", afirma.

A cidade de Goma, onde fica a base militar da Monusco, foi completamente liberada depois da derrota do M23. "Eles faziam check points' na cidade e nas estradas para extorquir os seus habitantes", explica Cruz.

Diferentemente do M23, as FDLR estão espalhadas no meio da população, em pequenos grupos. Cruz explica que não se trata de uma tática de guerrilha.

"Eles exploram a situação local para se dissimular entre a população. Estão localizados basicamente nas províncias do Kivu, região agrícola e de riquezas minerais. É um grupo que se posiciona contra o governo de Ruanda, mas não tem capacidade militar para invadir o país. O problema é que, dentro do grupo, há pessoas que participaram do genocídio de 1994", afirma.

O governo de Ruanda acusa o Congo de não combater as FDLR, que fazem incursões em território ruandês, e de não executar mandatos internacionais de prisão contra os genocidas.

A ONU não tem prerrogativa legal de executar mandados internacionais de prisão.

Segundo o general, "os presos contra os quais há mandados da corte internacional e da Justiça congolesa são levados às autoridades".

O Programa de Desmobilização e Desarmamento (DDR), acusado de facilitar a impunidade, é uma alternativa à prisão para combatentes que se entregam voluntariamente. "É uma oportunidade que o governo dá para essas pessoas. Mesmo assim, se a pessoa tiver praticado crimes, será levada à Justiça", garante Cruz.

O Conselho de Segurança da ONU renovou, na semana passada, o mandato da Monusco por mais um ano, mas com a indicação de que se prepare para deixar o país.

A brigada de intervenção, uma novidade das forças de paz por sua capacidade ofensiva, será substituída por tropas do Congo, com os mesmos recursos. Antes de ser indicado para comandar a Monusco, o general comandou a missão de paz no Haiti.

Sobre a possibilidade de perder a sensibilidade diante do que vê, responde: "a gente nunca se acostuma com o sofrimento humano".


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