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Iraque tem primeira eleição pós-invasão
País vive uma escalada de violência sectária desde o fim da presença americana, que se estendeu de 2003 a 2011
Guinada autoritária de premiê xiita contra políticos sunitas abriu espaço até para grupos ligados à Al Qaeda
Numa noite de janeiro passado, as irmãs Naba, 12, e Hoda, 11, ouviram os pais serem executados por homens armados que haviam invadido a casa da família, num bairro xiita de Bagdá.
O filho caçula, um bebê, teve a vida poupada, mas foi encontrado coberto com o sangue dos pais.
"Quando crescer, quero ser advogada, para me vingar dos assassinos", diz Hoda, que hoje vive com tios.
O Iraque afunda há meses numa espiral de violência sectária, que ressuscita temores de guerra civil às vésperas da eleição parlamentar da próxima quarta-feira.
Será o primeiro pleito no país desde a retirada americana, em 2011, que pôs fim a oito anos de ocupação.
A campanha acirrou tensões entre xiitas, que formam maioria e controlam o governo, e a minoria sunita, que se sente oprimida desde a queda do ditador sunita Saddam Hussein, em 2003. Segundo projeções, os iraquianos votarão conforme sua linhagem étnico-confessional.
Entre xiitas, o favoritismo recai sobre a coalizão do premiê Nuri al Maliki, que busca o seu terceiro mandato consecutivo.
"Voto nele porque faz um bom trabalho e porque é xiita", diz a dona de casa Rasmia Abbassi, 61. O voto xiita, porém, deve fragmentar-se entre várias listas rivais do premiê.
Sunitas têm à disposição centenas de candidatos. Entre os mais proeminentes estão o presidente do Parlamento, Usama Al Nujayfi, e o ex-premiê Ayad Allawi, um xiita com agenda secular.
CAÇA SUNITA
Passado o pico da violência entre 2005 e 2007, o Iraque viveu relativa estabilidade e crescimento econômico, graças à retomada das exportações de petróleo.
Mas a saída dos EUA abriu caminho para uma guinada autoritária de Maliki contra políticos sunitas, inclusive na coalizão de governo.
O premiê reforçou seus poderes e afastou aliados. O vice-presidente Tareq Hashemi fugiu do país para escapar da pena de morte.
Sentindo-se marginalizadas e sem representatividade, regiões sunitas a oeste de Bagdá organizaram grandes protestos contra o governo a partir de 2012.
Maliki enviou o seu Exército para esmagar as manifestações.
Mas o caos atraiu um poderoso grupo ligado à rede terrorista Al Qaeda, o Estado Islâmico no Iraque e no Levante, que tem ramificações junto à insurgência na vizinha Síria.
Em Bagdá, atentados voltaram a ocorrer todo dia.
"Os líderes dos grupos armados são os mesmos que disputam o pleito", afirma um diplomata ocidental.