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BC europeu libera crédito, e fome de bancos surpreende

Quase 500 bi de euros são emprestados a juro baixo, valor bem superior ao esperado; mais de 500 bancos se beneficiam

Volume dá dimensão das dificuldades que a banca enfrenta para se financiar; juro pago por Espanha e Itália sobe

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Mais de 500 bancos da zona do euro recorreram ontem a uma linha de crédito emergencial do BCE (Banco Central Europeu) e tomaram emprestados € 489,2 bilhões (R$ 1,2 trilhão) por até três anos.

O volume ultrapassou todas as expectativas. E deu uma dimensão real das dificuldades que a banca encontra para se manter de pé.

O BCE emprestou o dinheiro a 523 bancos a taxa de juro baixíssima, de 1% ao ano.

A medida tem três objetivos: 1) encorajar os bancos a usar parte desse dinheiro barato para reativar empréstimos a famílias e empresas; 2) estimulá-los a comprar títulos dos países mais vulneráveis (que hoje oferecem juros bem maiores do que o 1% que os bancos pagarão ao BCE); 3) tranquilizar o mercado sobre as necessidades de financiamento que os bancos terão ao longo de 2012.

A ação do BCE possibilitou aos bancos levantar dois terços do que precisariam buscar no mercado no ano que vem. Isso deve reduzir a pressão sobre eles. Para reforçar o cumprimento de seus objetivos, o BCE fará nova oferta de dinheiro barato aos bancos em fevereiro.

Ainda é difícil estimar se o plano do BCE resgatará a Europa, onde a atividade vem caindo. Ou se os bancos de fato usarão o dinheiro barato para comprar títulos de governos encrencados.

O estatuto do BCE não permite (e a Alemanha é contra) que ele compre diretamente títulos estatais e financie governos. Por isso, o BCE está emprestando aos bancos.

O fato é que nos últimos meses grandes bancos como HSBC, Deutsche Bank e Royal Bank of Scotland diminuíram significativamente o volume de títulos estatais de Espanha e Itália (além de Grécia e Irlanda) em suas carteiras.

Depois de um empréstimo semelhante feito pelo BCE aos bancos em 2009 (mas com prazo de um ano), nem a metade dos € 442 bilhões tomados acabou destinada a títulos estatais, segundo estimativa do Deutsche Bank.

JUROS

Ontem, os juros pagos por títulos de Espanha e Itália subiram, sinalização inicial de que o mercado talvez não acredite que os bancos usarão o dinheiro para financiar esses países.

Também não é certo que os bancos destinarão grande parte dos recursos tomados no BCE para novos empréstimos a consumidores e empresas -que, por sua vez, relutam em aumentar seu endividamento.

Uma das apostas é que a maioria desses 523 bancos acabe usando a maior parte do dinheiro para se proteger.

Para mostrar ao mercado que elas têm caixa suficiente para atravessar um 2012 que promete ser muito difícil.

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