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Análise

Novo primeiro-ministro é um parceiro complicado para o Brasil e os Brics

CLÓVIS ROSSI COLUNISTA DA FOLHA

O Brasil acaba de ganhar um parceiro complicado no grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Chama-se Narendra Modi, eleito primeiro-ministro da Índia com uma maioria absoluta inédita em 30 anos.

Modi é um nacionalista, um firme adepto do hinduísmo. Até aí, não seria um pecado mortal, não fosse o fato de que nasceu politicamente no RSS (Rashtriya Swayamsevak Sangh ou Organização Nacional de Voluntários) grupo de extrema direita e paramilitar.

Seu partido, o BJP (Bharatiya Janata Party, ou Partido do Povo Indiano), é tido como mera vitrina do RSS.

A biografia de Modi ficou manchada pela omissão (ou, pior, incitação) em um massacre em 2002 de muçulmanos no Estado de Gujarat, que ele governava (e ainda governa, aliás).

Tão manchada que o governo norte-americano lhe retirou o visto de turista, com base em uma cláusula da lei de imigração que torna indesejável estrangeiro culpado de "violação da liberdade religiosa".

Christophe Jaffrelot, pesquisador da Sciences Po parisiense, afirma que a "Hindutva" (a ideologia hinduísta) "tende a resumir a civilização indiana, embora feita de mestiçagens, apenas à comunidade hindu (80% da população)".

Nesse caso, "as minorias muçulmana (14%) e cristã (2%) podem, claro, praticar seus cultos na esfera privada, mas, no espaço público, são convidadas a se identificar à cultura hindu e a prestar obediência a seus símbolos".

Menos mal que Brics é apenas um rótulo, não um grupo que coordena suas decisões.

Ainda assim, a foto oficial da cúpula do conglomerado, a realizar-se em julho em Fortaleza (CE), mostrará a presidente Dilma Rousseff ao lado de Modi, o que pode incomodar os líderes muçulmanos, ainda ressabiados pelos acontecimentos de 2002 e pela ideologia do novo primeiro-ministro.

A questão seguinte obrigatória é saber onde Narendra Modi porá suas prioridades. É o que se pergunta, por exemplo, Chetan Baghat, escritor e colunista do jornal "Times of India":

"O que o BJP fará com esse novo hindu power'? Vai usá-lo para acertar as contas com os muçulmanos? Vai usá-lo para estabelecer um Estado intolerante em que as minorias sejam postas em seu lugar'? Vão se impor e dizer coisas como a Índia é a terra dos hindus'? Farão leis mais alinhadas com a religião hindu?", afirma.

A simples formulação de tais perguntas indica quão complicado pode ser Modi como parceiro no Brics.

Ainda mais que a fronteira no Himalaia com outro dos Brics, a China, é uma fonte de tensão.

De todo modo, cabe ressaltar que a face nacionalista é apenas uma das duas que Modi oferece.

A outra é a de "CEO (executivo-chefe) de Gujarat", o Estado que mais cresce em uma Índia que viu cair seu crescimento à metade nos últimos anos.

Esse fato foi muito mais relevante para o voto que o levou ao poder do que o nacionalismo do BJP.

Logo, é razoável supor que a prioridade de Modi será a revitalização da economia indiana, o que, se funcionar, será bom para os Brics, cujo brilho está bastante embaçado pela redução do crescimento em todos os seus integrantes, principalmente no Brasil e na Rússia.


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