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Haitianos desembolsam US$ 300 para entrar ilegalmente no Brasil Atravessadores bolivianos, chamado de "coiotes", levam os imigrantes para cidades do Acre Fluxo aumentou muito após o terremoto de 2010; governo do Brasil tem autorizado entrada por razões humanitárias GUSTAVO HENNEMANNJOEL SILVA ENVIADOS ESPECIAIS A BRASILEIA (AC) Os haitianos que usam o Acre como porta de entrada para o Brasil pagam até US$ 300 a bolivianos que montaram um esquema de imigração ilegal para atendê-los. Conhecidos como "coiotes" -referência aos agentes que guiam imigrantes clandestinos na fronteira entre México e EUA-, eles buscam os haitianos em Iñapari, no Peru, e seguem até Cobija, cidade boliviana separada de Brasileia (231 km de Rio Branco) apenas pelo rio Acre. Haitianos que entraram no país ilegalmente nos últimos dias relataram à reportagem da Folha que os coiotes bolivianos oferecem duas opções de caminho. É possível fazer todo o percurso de carro ou pode-se tomar um atalho caminhando 22 km no meio da selva amazônica para evitar extorsões e humilhações em postos de fiscalização da Bolívia. O preço cobrado pelos coiotes, que são geralmente taxistas, varia de acordo com o que cada haitiano tem no bolso e chega a US$ 300 (cerca de R$ 550). Desde o Haiti, a viagem dura até seis dias e custa US$ 3.000, incluindo as passagens aéreas. POUCA FISCALIZAÇÃO Após chegarem a Cobija, os imigrantes -muitas vezes sujos e molhados- passam por um dos momentos mais tensos da odisseia. Em pequenos grupos, esperam até a madrugada para cruzar a ponte sobre o rio Acre abaixados dentro do carro dos coiotes. "Sabemos que entre 5h e 8h é mais fácil de passar, porque a fiscalização brasileira é mais flexível. Eu cruzei com minha irmã e meu namorado e não fomos parados. Abaixei a cabeça e não vi nada", diz Barbara Bellanger, 25. Ela espera ter a situação regularizada para depois seguir de Brasileia para Manaus. Ao cruzarem a fronteira brasileira, os haitianos são deixados em lugares escuros e afastados da cidade. Se forem flagrados, os coiotes podem ser presos por colocar um estrangeiro no país ilegalmente. Segundo o delegado da Polícia Federal Geraldo Sávio Pedrosa, o esquema de imigração ilegal também atraiu brasileiros inicialmente, mas eles recuaram depois de três homens serem presos transportando haitianos numa estrada perto de Brasileia. PALAVRA MÁGICA O delegado, que formaliza os pedidos de refúgio, diz que a entrada dos haitianos na fronteira amazônica começou de forma "tímida" em abril de 2010, três meses depois do terremoto que devastou o Haiti, deixando mais de 300 mil mortos. No entanto, desde setembro deste ano, o fluxo cresceu exponencialmente. "A Polícia Federal não pode deixar nenhum haitiano atravessar a fronteira sem visto prévio, mas eles aprenderam a palavrinha mágica 'refúgio'", afirma Pedrosa. "A partir do momento em que eles se apresentam aqui [na delegacia] pedindo proteção, temos de encaminhar o pedido ao Conare [Comitê Nacional para os Refugiados] e eles não podem ser deportados", diz o delegado da Polícia Federal. Até ontem, 853 haitianos estavam instalados em Brasileia à espera do protocolo do Conare, com o qual podem trabalhar no país. O trâmite junto às autoridades pode demorar até três meses e não é definitivo. O governo brasileiro entende que os haitianos não são refugiados, porque não sofrem perseguição política. Contudo, eles têm sido autorizados a ficar no país por questões humanitárias. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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