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Foco

Países africanos traçam plano para unificação

Bloco econômico pretende implementar moeda única em dez anos

DANIEL MÉDICI ENVIADO ESPECIAL A ST GALLEN (SUÍÇA)

A voz tranquila do ruandês Richard Sezibera, 50, esconde o tamanho da ambição da organização que ele representa: unificar cinco países sob uma federação.

Sezibera é secretário-geral da Comunidade da África Oriental, bloco formado por Quênia, Tanzânia, Uganda, Ruanda e Burundi. A meta da unificação, apesar de declarada, não tem data estipulada para ocorrer.

"Fizemos pesquisas de opinião nos países do bloco, e a maioria apoia o nosso projeto. Na Tanzânia, por exemplo, há cerca de 80% de aprovação, mas há a intenção clara de que isso seja feito de forma lenta", diz.

Os objetivos de curto e médio prazo, no entanto, são pragmáticos: visam dinamizar a economia da região.

Somado, o PIB do bloco é o 17º maior do mundo, segundo a organização.

Uma das conquistas recentes da Comunidade da África Oriental foi abolir a exigência de vistos diferentes --atualmente, um turista que vai ao Quênia, por exemplo, pode usar o mesmo visto para visitar a Tanzânia.

O projeto vai além: há um cronograma para a implementação de uma moeda única em todos os cinco países em um prazo de dez anos.

Sezibera defende o plano, apesar dos recentes percalços da experiência do euro na União Europeia.

"Na verdade, a própria UE nos enviou uma comissão para ajudar na adoção do projeto", diz.

Para que não se repitam os mesmos erros, "nosso plano é permanecermos pequenos. Somos um bloco de apenas cinco países e não temos a intenção de abrigar muitos outros", afirma o secretário-geral da comunidade.

O projeto atrai o interesse de nações vizinhas, como Somália e Sudão do Sul, que se ofereceram para integrar o bloco, mas foram, até o momento, rejeitadas.

Sezibera foi um dos palestrantes no simpósio anual da Universidade de St Gallen, na Suíça, no mês passado. Lá, detalhou os projetos da comunidade a empresários.

Para ajudar a região a se desenvolver, Sezibera considera imprescindível a ajuda de investidores de fora do bloco para modernizar a infra-estrutura da região, um dos grandes gargalos da economia e desafio à integração.

"Hoje, uma mercadoria que sai de Kigali [capital de Ruanda] demora 21 dias para chegar em Mombaça [cidade portuária do Quênia]. Faltam pontes, estradas asfaltadas, ferrovias", explica.

Mais do que isso, o ruandês diz passar boa parte de seu tempo convencendo os não africanos de que o continente é um lugar onde vale a pena investir.

"O continente não é o mesmo que era há 20 anos", afirma, lembrando do genocídio que seu país viveu em 1994, quando a etnia hutu massacrou cerca de 800 mil pessoas, a maioria tutsi.

"Acredito que a África precise de apoio, ninguém cresce sozinho", afirma, ponderando: "Mas acredito que, ao fim do dia, o resultado do trabalho dos africanos deve permanecer entre os africanos."

DIÁLOGOS

Apesar de ambiciosa, a meta final da unificação da região não é nova.

Surgidos de ex-colônias que flutuaram entre mãos britânicas, alemãs e belgas ao longo do tempo, durante o processo de independência, nos anos 1960, o estabelecimento de uma nação unificada chegou a ser discutido.

A questão foi negociada pelas lideranças políticas da época, como Jomo Kenyatta (1889-1978), primeiro presidente do Quênia, e Julius Nyerere (1922-99), então primeiro-ministro de Tanganica.

A oposição de Idi Amin (c.1925-2003), então ditador de Uganda, e a subsequente formação da Tanzânia, quando Tanganica e Zanzibar se uniram, selaram a criação de Estados separados.

O caminho reverso ainda é apenas um rascunho, diz Sezibera. "Nós já entramos em acordo sobre o nome do país, Federação da África Oriental. Na verdade, é o único acordo ao qual conseguimos chegar", brinca.

Questionado por empresários sobre qual seria a capital, Sezibera esquiva-se, entre risos: "Eu não sei!".


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