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Clóvis Rossi

Alemanha ganha também em casa

O futebol alemão é um dos poucos, talvez o único, que combina clubes fortes com uma seleção poderosa

O "New YORK TIMES", que fez uma belíssima cobertura do Mundial, publicou uma tabelinha que deveria servir de inspiração para os responsáveis pelo futebol brasileiro (se é que responsáveis é palavra que sirva para eles) e para a crônica esportiva, neste momento que o NYT chamaria de "soul searching" --ou, em tradução livre, de busca pela alma de nossos defeitos no futebol.

O jornal buscou qual campeonato nacional disputam todos os jogadores inscritos para a Copa.

Nas quatro seleções semifinalistas, deu (adivinhe?) a Bundesliga, o torneio alemão, em primeiro lugar, com 23%.

Mas, atenção, esse dado não significa que campeonato forte é sinônimo de seleção forte. A rigor, é o contrário, tanto que, no conjunto das 32 seleções da Copa, a Premier League tinha mais representantes (15%) do que qualquer outra e, não obstante, a Inglaterra foi eliminada em duas partidas.

É fácil entender o fenômeno clubes fortes/seleções fracas (ou, ao menos, não tão fortes): os clubes contratam uma tonelada de jogadores estrangeiros, com o que se fortalecem inexoravelmente.

Mas as seleções nacionais não podem convocá-los, salvo os poucos que se nacionalizam, o que as torna mais fracas.

O que faz da Bundesliga um item a ser examinado não é o 7 a 1 desta terça-feira (8), mas o fato de que é a única liga europeia que consegue combinar times fortes com uma seleção forte. E, quando digo seleção forte, não é com base nos 7 a 1, que dificilmente se repetirá nos próximos cem anos, mas no fato de que a Alemanha passou a ser o país que mais finais de Copa terá disputado a partir de domingo (oito contra sete do Brasil).

Não se trata, pois, de um cometa que brilha aqui e ali e depois desaparece. Seu campeonato é rico em público e em futebol, o que seguramente ajuda a seleção a brilhar.

Os estádios estão sempre lotados, mesmo com o desnível entre os clubes refletido na formidável hegemonia do Bayern de Munique, que ganhou 24 títulos nacionais mais 17 Copas da Alemanha.

O Brasileirão é o contraexemplo. A crônica esportiva até já se cansou de reclamar do número relativamente baixo de espectadores, fenômeno, aliás, que se torna ainda mais agudo nos torneios regionais --que, apesar desse minguado público, ainda ocupam um terço do ano, pouco mais ou menos.

A questão a ser analisada é qual a relação entre clubes fortes e seleções fortes. O Brasil tem clubes pobres há alguns anos, mas nem por isso deixou de ser campeão mundial em 1994 e 2002. Se fracassou este ano, não foi pela debilidade de seus clubes, refletida no fato de que apenas 4% dos jogadores que disputaram as semifinais atuam no Brasileirão (contra 23%, lembra-se?, que jogam na Bundesliga).

Fracassou porque a safra atual é pobre, exceção feita a Neymar. Se Hulk fosse craque, estaria jogando em alguma grife europeia e não no Zenit russo.

O fato é que, se quiser pensar em termos de espetáculo e de negócios --os dois pilares do futebol--, o Brasileirão não pode continuar sendo piada em vez de campeonato.

crossi@uol.com.br


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