Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Clóvis Rossi

Israel está perdendo a guerra

A meta israelense de minar a capacidade de o Hamas atacar com foguetes só seria obtida com total ocupação

Na guerra de Gaza, estão morrendo bem mais palestinos que israelenses, mas, não obstante, Israel parece estar perdendo o combate paralelo, que é pela opinião pública global.

As reações nos Estados Unidos, o principal aliado de Israel, são eloquentes a esse respeito. Primeiro, foi o secretário de Estado, John Kerry, pilhado por um microfone inadvertidamente aberto ao contestar a afirmação do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu de que a operação em Gaza seria de precisão ("pinpointed").

"Que diabo de pinpoint", comentou Kerry a um assessor, pouco antes de iniciar uma entrevista.

Kerry estava certamente se referindo ao que seu chefe, Barack Obama, diria nesta segunda-feira (21) ao mostrar-se "seriamente preocupado com o crescente número de mortes de civis palestinos e a perda de vidas de israelenses".

Some-se a eles a manifestação de Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, que condenou a "atroz ação" no bairro de Shejaiya, que Israel diz ser um bastião do Hamas e no qual o número de mortos no domingo foi o mais elevado nos 14 dias da guerra de Gaza.

Se aliados e uma autoridade neutra, como Ban Ki-moon, têm essa opinião, é natural que, no mundo árabe, o tom de voz seja muito mais forte.

"Crime de guerra" foi, por exemplo, a avaliação do secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi.

Nesse cenário, é razoável supor que a pressão por um cessar-fogo aumente consideravelmente. Se ele ocorrer agora, Israel perderá também no campo de batalha porque não terá alcançado suas metas (eliminar a capacidade do Hamas de atacar território israelense com os seus foguetes e destruir os túneis que militantes do Hamas construíram para entrar em Israel e praticar atentados).

Israel contabiliza mais de 3.000 alvos terroristas atingidos em Gaza, pelo ar e na operação terrestre. Não obstante, 1.930 foguetes foram disparados contra Israel, 131 deles só nesta segunda.

Tudo somado, parece bastante razoável a análise de Hussein Ibish, colunista de "The National" (Emirados Árabes Unidos): "As metas declaradas de Israel de degradar --se não eliminar-- a capacidade do Hamas de disparar foguetes são diretas, mas inalcançáveis, a menos que o país parta para reocupar plenamente Gaza e reverter o desengajamento unilateral' efetuado pelo primeiro-ministro Ariel Sharon em 2005".

Colabora para a percepção de que as metas israelenses estão fora de alcance uma informação de Ali Hashem (do site "Al Monitor") sobre a ajuda que o Irã dá ao Hamas para fabricar foguetes localmente.

Diz Hashem que "os iranianos essencialmente contrabandeiam foguetes via os cérebros dos palestinos, mantendo intacto o know-how, apesar de guerras e ataques". Parte do princípio de que "know-how não pode ser bombardeado".

Se é assim, mesmo que Israel resolva correr o risco implícito na plena reocupação de Gaza, nada garante que, quando tiver que sair de novo, os foguetes não estarão prontos para serem disparados outra vez.

crossi@uol.com.br


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página