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Estados Unidos vivenciam pico de desigualdade social

Em 'favela' de Maryland, morar em trailer custa 1/50 do preço de uma casa

Política tributária e desregulamentação do sistema financeiro são apontadas como razões da disparidade de renda

ENVIADA A FOUNTAINHEAD-ORCHARD HILLS

Quem chega a Fountainhead-Orchard Hills, um agrupamento urbano de 5.059 pessoas em Maryland - quarto Estado mais rico dos EUA-, vê-se em um subúrbio americano arquetípico, desses que as séries de TV retratam.

Fileiras de espaçosas casas de tijolos, carros grandes e gramados que ao fim do dia são iluminados por um poente sensacional.

O que há mais para trás dessas casas, porém, pouco se vê na ficção americana.

Desde o Pós-Guerra, os EUA nunca tiveram um abismo social tão grande.

E Orchard Hills é, pelo Censo de 2010, o lugar mais desigual do país. Tem coeficiente Gini (medida de distribuição de renda que vai de 0 para o mais igualitário a 1 para o mais desigual) de 0,714 -quase igual ao da Namíbia.

A metros dos gramados das casas, existe um bairro onde 160 famílias vivem em trailers e contêineres.

Uma moradia ali custa a partir de US$ 3.000 (R$ 5.550) -1/50 do preço médio das casas vizinhas e o dobro do que algumas famílias pagam de luz em dezembro, pela parafernália natalina. É a versão americana da favela.

"Fomos um país muito desigual, mas houve um período relativamente longo no século 20 em que a tendência se inverteu", diz o historiador Alex Keyssar, da Universidade Harvard.

"Depois da guerra até o fim dos anos 90, essa desigualdade se estreitou devido a uma mistura de política tributária e fortalecimento do movimento trabalhista e dos programas de distribuição de renda."

CRISE

A crise econômica evidenciou o abismo, e isso vem servindo de combustível para movimentos como o "Ocupe Wall Street".

Mas não está, segundo os estudiosos, em sua raiz.

Raymond Brescia, professor na Escola de Direito de Yale, aponta o inverso: a desigualdade alimentou a crise.

Ele lembra que um dos estopins para a crise foi o mercado imobiliário e o colapso de um sistema de financiamento baseado em crédito podre. Brescia vê correlação direta entre os índices de despejos e de desigualdade.

"Pessoas foram instruídas a contrair empréstimos com os quais não podiam arcar." Ele diz ainda que, quanto mais os cidadãos se veem como diferentes, mais à vontade se sentem para se portar de forma predatória.

Ou seja: a desigualdade se retroalimenta. Dados do Escritório de Orçamento do Congresso mostram que a crise acentuou o descolamento da trajetória da renda do 1% mais rico, que subiu, da dos 99% mais pobres.

Duas coisas amplamente citadas como razões para isso estarão no foco da campanha presidencial de 2012.

Uma é a política tributária -sobretudo os cortes de impostos para os mais ricos implementados por George W. Bush, que Barack Obama manteve. Outra é a regulação do sistema financeiro, desmantelada nas décadas de 80 e 90 por Ronald Reagan, George Bush pai e Bill Clinton. (LUCIANA COELHO)

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