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Clóvis Rossi

Mercados não votam. Que bom

Santander repete em 2014 o que George Soros fizera em 2002. Mas, agora, o terrorismo não funciona

A advertência de economistas do Santander sobre os supostos riscos que corre a economia se as pesquisas continuarem apontando vitória de Dilma Rousseff pode ser lida, paradoxalmente, como um atestado de solidez da economia brasileira.

Explico: uma advertência semelhante foi feita pelo megainvestidor (ou megaespeculador, ao gosto de cada qual) George Soros, mais ou menos na mesma altura da eleição de 2002.

Soros disse à Folha que, se Serra não ultrapassasse Luiz Inácio Lula da Silva, desatar-se-ia o caos nos mercados. Acertou. O dólar, por exemplo, subiu 35% entre o dia de junho em que foi publicada a sinistra previsão, e dezembro, véspera da posse de Lula.

O risco-país, que mede quanto um dado país tem de pagar a mais de juros sobre as taxas cobradas pelos EUA, estava nos 1.181 pontos quando Soros fez a afirmação. Em dezembro, saltara para 1.421 pontos. Os juros básicos foram de 18,5% para 25%.

A inflação, pelo IPCA (índice que o governo usa para suas metas), multiplicou-se quase por 14, entre maio e dezembro.

Agora, no entanto, o alerta do Santander, rapidamente "deletado", só faz cócegas nesse tipo de indicadores. E é lógico que seja assim: em 2002, o programa do PT realmente podia assustar os tais mercados, o que justificava, do ponto de vista deles, o "terrorismo" contra a candidatura Lula.

Não por acaso, o PT usou a palavra "terrorismo" para caracterizar agora a nota do Santander (para a previsão de Soros, José Dirceu preferiu "chantagem"; dá mais ou menos na mesma).

De lá para cá, no entanto, os governos petistas tornaram-se tão "market-friendly", para usar o jargão dos mercados, que se torna patético repetir Soros com 12 anos de diferença.

Ainda bem que os mercados não votam, tanto que perderam o pleito de 2002. Seria lesivo à democracia se um segmento social pudesse impor sua vontade aos demais. Mas seria lesivo aos próprios mercados.

Afinal, como Lula repete sempre, os empresários --parte vital dos tais mercados-- jamais ganharam tanto dinheiro como em seus oito anos, afirmação que se pode estender, tranquilamente, aos quatro anos seguintes, de Dilma Rousseff.

Fechando o foco só nos rentistas (portadores de títulos da dívida pública), o governo Lula lhes repassou um mínimo de 2% do PIB (2009) a um máximo de 3,79% (2005). Para comparação: os pobres, que recebem o Bolsa Família, jamais levaram mais que 0,5% do PIB.

Além de patético, o comportamento de tais agentes de mercado é covarde. Em 2002, Soros tanto fez que conseguiu que o Council on Foreign Relations me banisse de suas atividades. Alegou que a conversa que tivera comigo fora "off the records", o jargão para não citação da fonte.

Na verdade, o "off" cobria o tema do seminário em que coincidimos (terrorismo), mas nunca poderia se estender a uma conversa sobre Brasil, em jantar pós-seminário. Agora, o Santander desmentiu seus economistas. É o clássico modelo de atirar pedras e esconder a mão.


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