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Julia Sweig

Túneis e soberania

A insustentável ocupação israelense da Cisjordânia não justifica as táticas terroristas do Hamas

Toda a discussão sobre a desproporcionalidade na guerra, acrescida de indiretas machistas sobre tamanho, estatura, relevância e subordinação, é, evidentemente, secundária quando comparada à matança horrenda e à ameaça existencial da guerra entre Gaza e Israel.

Para explicar tanto minha reação horrorizada às mortes em Gaza quanto meu apoio à operação de Israel para destruir os túneis, procuro referências, mesmo que imperfeitas, que possam ter ressonância para os leitores brasileiros.

Mas afirmarei desde já alguns pontos que parecem se perder em meio à balbúrdia tendenciosa: o Hamas não é representante legítimo do povo palestino --basta perguntar à Autoridade Palestina. O Hamas é uma organização terrorista que perdeu mais de US$ 200 mi em receita mensal quando o governo egípcio pós-Mursi fechou os túneis entre o Egito e a faixa de Gaza.

Israel é um Estado soberano que, por alguma razão que não entendo, deixou o Hamas construir uma complexa rede de túneis que hoje avançam fundo no território israelense. A finalidade dos túneis não é permitir a entrada irregular de dinheiro ou coisas para romper o cerco econômico. É permitir ataques militares contra Israel, dentro de Israel. A insustentável ocupação israelense da Cisjordânia, um golpe moral e ético contra suas credenciais democráticas, não justifica esses túneis terroristas.

Não encontro palavras melhores que as deste editorial do "Washington Post" para descrever o cinismo: "A perversidade da estratégia do Hamas parece passar despercebida de boa parte do mundo externo, que --aceitando o roteiro traçado pelos terroristas-- culpa Israel pelas baixas civis que ele causa. Enquanto crianças morrem nos ataques contra a infraestrutura militar que os líderes do Hamas posicionaram deliberadamente em casas e no meio delas, esses líderes permanecem em segurança em seus túneis."

Vamos agora a um experimento intelectual mais paroquial que pode lançar luz sobre o desafio enfrentado por Israel. Os EUA e o México dividem uma fronteira de 3.110 km (a fronteira entre Brasil e Bolívia tem 3.423 km). Os cartéis paramilitares mexicanos, que sabidamente utilizam táticas terroristas para intimidar civis e policiais mexicanos e seus próprios concorrentes, também construíram túneis para o tráfico ilícito para dentro e fora dos EUA. Os cartéis geralmente atacam apenas mexicanos em território mexicano.

E se os cartéis resolvessem usar os túneis para retaliar contra a Patrulha de Fronteira dos EUA ou contra alvos civis no lado americano da fronteira? Ou começassem a disparar foguetes contra o outro lado da fronteira? Qual seria uma reação proporcional? Será que é ir longe demais imaginar como o Brasil poderia reagir se paramilitares bolivianos usassem de força contra alvos brasileiros? Voltando a Israel e Gaza: sim, Israel desperdiçou oportunidades de apoiar palestinos moderados na construção de um governo moderno na Cisjordânia. Mesmo assim, não podemos dar a Israel algum benefício da dúvida na defesa imperfeita de sua soberania?


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