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Clóvis Rossi

Guerra santa no centro do mundo

Decapitação de jornalista traz o Estado Islâmico e seu fanatismo para o foco do Ocidente. Tarde demais?

Até muito recentemente, a guerra que o EI (Estado Islâmico) levava avante no Iraque e na Síria era a verdadeira guerra no fim do mundo, título de um livro de Mário Vargas Llosa sobre a guerra de Canudos no Brasil. No fim do mundo porque o Ocidente não prestava lá muita atenção a ela.

Constata a revista alemã Der Spiegel: "Foi só a ameaça de genocídio [sobre os yazidis] que levou a comunidade global a agir. Países ao redor do mundo rapidamente se uniram na batalha contra o EI, de longe a tropa jihadista mais brutal, mais bem sucedida e mais sinistra do mundo".

Agora, a decapitação do jornalista norte-americano James Foley traz a guerra para o centro do mundo. Tarde demais, acha Charles Lister (Brookings Institution), que pesquisa intensivamente a milícia radical: "Infelizmente, permitiu-se que o EI crescesse e se desenvolvesse a tal ponto que qualquer estratégia para realmente contê-lo levará anos e consumirá significativos recursos", disse à Spiegel.

De fato, o EI é hoje por hoje um exército (com de 6.000 a 8.000 integrantes na Síria e mais de 15 mil no Iraque), mas é também um Estado. Relata a revista alemã:

"O EI até oferece benefícios da seguridade social aos residentes das áreas que controla --exatamente como um país de verdade, diz Lister, da Brookings. Em qualquer região que conquiste, continua a pagar os trabalhadores locais".

Dinheiro não está sendo um problema para os fanáticos: quando conquistaram a cidade de Mossul, ficaram com US$ 500 milhões dos cofres locais, para não mencionar o fato de que cobram impostos e vendem petróleo e gás das áreas que controlam. Esse comportamento tecnocrático choca frontalmente com a fonte ideológica do EI. A milícia bebe nos dogmas de pregadores islâmicos radicais tão antigos como, por exemplo, o xeque Taqi ibn Taymiyya (1263-1328).

O jornalista iraquiano Shukur Khilkhal explica que Taymiyya exige que os muçulmanos promovam a guerra santa (jihad) contra os infiéis (e todos os Estados do mundo são considerados infiéis), os apóstatas e até contra os muçulmanos hesitantes.

É por isso que o EI declarou o califado (governo segundo as regras islâmicas) nas áreas que ocupa na Síria e no Iraque. Seria, pois, o único Estado não infiel no planeta.

Um Estado tão primitivo que, além das conhecidas regras de apedrejamento de acusadas de adultério ou o corte das mãos de ladrões, inclui proibir sorvetes ou a venda de pepinos nos mercados para não despertar pensamentos impuros.

Enfim, como disse nesta quarta-feira (20) o presidente Barack Obama, "um grupo como o EI não tem lugar no século 21".

O problema é que seus adeptos moveram-se do fim do mundo para, por exemplo, a Oxford Street de Londres, a mais movimentada rua de comércio do mundo, na qual distribuem panfletos convidando os transeuntes a se unir ao califado. Calcula-se que entre 2.000 e 3.000 jovens europeus já aceitaram o convite.

Tudo somado, vê-se que bombardear montanhas do Iraque não será suficiente para vencer a guerra.

crossi@uol.com.br


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