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Candidato garoto

Filho de ex-presidente, Luis Lacalle Pou, 41, aparece como azarão na eleição do Uruguai e recorre a diferença de gerações para tentar derrotar o ex-presidente Tabaré Vazquez, 74, da esquerdista Frente Ampla

SYLVIA COLOMBO DE SÃO PAULO

No exterior, o presidente do Uruguai, José Mujica, 79, figura como um superstar progressista por ter impulsionado a legalização da maconha e do aborto.

Dentro de seu país, porém, ele e sua geração enfrentam a pior crise desde a chegada ao poder de seu partido, Frente Ampla, em 2005.

A dois meses da eleição que escolherá o próximo presidente e redefinirá o Congresso, em 26 de outubro, Mujica vê seu antecessor e candidato à sucessão, Tabaré Vázquez, cair nas pesquisas.

Antes favorito a vencer no primeiro turno, o ex-presidente provavelmente terá que disputar um segundo turno em 30 de novembro com um azarão, o deputado Luis Lacalle Pou, do conservador Partido Nacional.

No centro do debate, curiosamente, não está a diferença ideológica, mas o abismo geracional. Enquanto Vázquez, 74, celebra conquistas de sua gestão, Lacalle Pou, 41, aponta para o futuro.

"Somos hoje, somos agora" é seu mote de campanha, que surge em inserções protagonizadas por crianças e adolescentes, com jingles em ritmo de pop e de rap.

"Lacalle Pou conseguiu mudar o enfoque tradicional da oposição direita x esquerda para o da inovação x velhas soluções. Isso provocou uma identificação com boa parte da sociedade que vê a necessidade de um ajuste ao momento econômico mundial e o desgaste dos líderes da esquerda", diz à Folha Antonio Pérez García, professor de psicologia social da Universidade da República.

A diferença de idade entre os candidatos ganhou relevo depois que o deputado sugeriu que Mujica, 79, Vázquez e o também ex-presidente Julio Sanguinetti, 78, formassem um "conselho de anciões".

Para reforçar a provocação, o candidato agarrou-se a um poste, no centro de Montevidéu, e fez piruetas, instando Vázquez a acompanhá-lo na brincadeira.

"A humanidade foi governada por conselhos de anciões durante 90% de sua história, então não é nenhuma ofensa. Mas não creio que o sr. Lacalle Pou chegará a merecer integrar um grupo assim", respondeu Mujica.

"Se nos baseássemos nisso, o papa Francisco não poderia exercer suas funções", disse Tabaré Vázquez.

A escalada de Lacalle Pou começou em junho, quando venceu em disputa interna a figura mais tradicional de seu partido, o senador Jorge Larrañaga, com 54% dos votos.

Desde então, começou a subir nas pesquisas. A mais recente, da Equipos, divulgada na semana passada, mostra Vázquez caindo de 42% para 39%, enquanto Lacalle Pou avança de 27% para 30%.

Tomados pela surpresa, os chefes de campanha de Vázquez desenham mudanças na estratégia eleitoral, até agora baseada apenas no carisma pessoal do médico, que terminou sua gestão com aprovação de 80%.

"Em muitos sentidos, Vázquez sempre foi mais popular que Mujica dentro do Uruguai. Tem a imagem de ser mais pragmático, organizado e previsível. Os uruguaios consideram Mujica simpático, mas não significa que creem em sua capacidade administrativa", diz o cientista político Gerardo Caetano.

Vázquez busca agora renovar seu eleitorado ao descolar-se do desgaste do ex-guerrilheiro. A economia, apesar do bom crescimento de 4% em 2013, já não tem o mesmo desempenho da década passada, quando o PIB chegou a crescer 8%, impulsionado pela alta das commodities.

A inflação bate nos 9%. Se Mujica reduziu a pobreza quase pela metade (20,9% em 2009 para 11,5% em 2013), por outro lado é criticado pela falta de investimentos em infraestrutura e educação.

O principal ponto negativo foi a quebra da companhia aérea estatal Pluna, até hoje investigada, mas que causou a queda do então ministro da Economia, Fernando Lorenzo, e o desgaste do atual vice-presidente, Danilo Astori.

SURFISTA

Praticante de surf, Lacalle Pou é advogado e filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle Herrera (1990-1995).

Em contraposição ao bucólico Mujica --que mora num rancho perto de Montevidéu-- o deputado tem perfil urbano e metrossexual.

Cabelo comprido e bem escovado, usa roupas modernas e dispensa a gravata, diferenciando-se também de Vázquez, sempre de terno.

Lacalle Pou nasceu poucos dias depois do início da ditadura uruguaia (1973-1985), no mesmo ano em que seu rival se formou em medicina.

A discussão sobre a Anistia e o julgamento de repressores e guerrilheiros, pauta tradicional da esquerda, não é prioridade para Lacalle Pou, que dá enfoque a temas da política econômica.

Dentre suas pretensões, está reestruturar a relação do Uruguai com o Mercosul, em especial com a Argentina.

Ele considera Mujica submisso à presidente Cristina Kirchner, que, para ele, adota políticas protecionistas.

Para a senadora e mulher de Mujica, Lucía Topolansky, 69, o crescimento do adversário revela o preconceito das classes média e alta uruguaia.

"Achavam que era bom que terminássemos com a pobreza, agora se incomodam porque os que eram pobres são parte da mesma sociedade, compram mais, vão aos mesmos lugares que eles."


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